quarta-feira, setembro 30, 2009

Abandono

É hora de olhar o céu.

E bravamente seguir,

Jogada, sem rumo, indo ao léu.

É mesmo para insistir!

Ser, talvez, consigo cruel

E mesmo assim sorrir.

Transformar o azedo em mel.

E, por ai, sair.

É hora de largar tudo.

Se despir.

Tirar o luto.

De repente, de novo, abrir.

Reencontrar seu mundo

Ainda há o que descobrir.

Então vá, sem pressa.

E não pense em mentir.

A consciência pesa.

E assim, sim, fica sem ter aonde ir.

domingo, setembro 27, 2009

Igor.

Jaqueta jeans, calça jeans e alguma blusa social colorida. All Star e um boné. Óculos comum de grau baixo. Igor. Piadas originais, tiradas perfeitas e falas decoradas com êxito ao espelho, desperdiçadas pela sua timidez. Igor. Arctic Monkeys e Cake embaixo da escadinha do colégio com sua única amiga Nina. Descoberta de REM e Franz Ferdinand ali em baixo também. Igor. Primeiro beijo aos 15 anos e primeira briga séria com os pais. Primeira declaração de amor e primeira decepção causada em alguém – Nina. Igor. A insistência de falar aquilo que sabe idiota falar, apenas para não se manter quieto. Precisava mostrar que gostaria de ser querido – sem deixar isso muito na cara. Igor. Ideais que orgulhavam seus pais e legião urbana como banda-chefe. Competição de quem sabia mais sobre rock o fez ficar mais popular, aprendeu tocar “Mardy Bum” para Nina e não sabia se gostaria de mostrar. Igor. O medo de alguém gostar dele e por isso, ter que se manter ao nível desse gostar. E se não conseguisse? Decepções não estariam incluídas no seu estoque de autoconfiança. Igor. Defensor intransigente de suas certezas, por serem tão poucas e tão suas. Modesto por falta de opção e sabia que era bem mais que um avoado do colégio e tinha muito o que oferecer, só faltavam pessoas. Igor. Nina. Igor. Madura criança. Erros propositais para não deixar a vida “em branco”. Respeitador de seus limites. Voz forçada de Renato Russo. Defensor da bebida e contra chicletes. Igor.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Nua

Nua comigo mesma evito confusões mal explicadas, tendenciosas entre as pessoas.
Nua com meus projetos, tão livre em criar sem se envergonhar.
Nua e sem enfeites para moldar o feio, sem enfeites para estragar o bonito.
Nua de preconceitos e caretices que levam só a auto-exclusão.
Nua com a minha solidão momentânea, quietude necessária para fluir na multidão depois.

Nua com minha arte e tão pronta pra por ela continuar, arte que me faz ficar despida de censuras e timidez. Nua e aceitando todas as imperfeições do corpo e do espírito,
renovando assim energias para enfatizar as luzes que tenho.
Nua para sentir melhor o toque na pele e arrepios, sensações.
Nua e tesa.
Nua e acúmulo de dúvidas. Nua e sábia.
Nua pra cheia lua.
Nua. Nova.

domingo, setembro 20, 2009

Amores de metrô.

Olho no olho despercebido e acidental. Você desvia e, sem pensar, volta a olhar, fixam-se ali duas iris como se o neon do vagão fosse naquele ponto. Bate um nervoso e uma falta do saber o que fazer. Olhares desviam-se de novo, procurando algum outro ponto fixo, se sentindo a qualquer movimento ser observado e começa a ser bem mais cauteloso em suas maneiras. Nenhum ponto lhe prende e uma quase necessidade te faz buscar de novo aquele olho. Dessa vez o olhar vem com uma vontade de trocar algumas palavras antes que a sua estação chegue e, merda, ela está chegando... Só que, sem planejar, a outra estação chega, cabem ao momento uma intenção subentendida de “foi bom e até um raro futuro” e adeus, o seu romance sobre trilhos acaba.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Na beira do abismo...

Hugo – Garota, ei, você mesmo. Faz isso não, você é tão bonita, cara... Eu só to aqui porque to fudido mesmo.

Tina – O que? Fica na sua ou se joga logo. Me deixa quieta, chorar um pouco mais antes de ir...

Hugo – ir pra onde, cara? Você acredita em céu, nessas paradas?

Tina – Não. Deus me livre de viver eternamente...

Hugo – Deus? Engraçado, né? Deus. Esse daí me esqueceu, me jogou nesse inferno e ficou lá comendo pipoca assistindo os tombos da minha merda de vida. Virei ateu agora! Dizem que quem se mata não via pro céu mesmo... Então, foda-se.

Tina – Do que você ta falando? Deus é uma invenção lucrativa. Foda-se mesmo. Ninguém vai saber que você ateu se você se matar, sai dessa, conta pros seus amiguinhos que você na beira do precipício, se deu conta que Deus não existe e agora ta afim de cumprir toda lista de pecados antes de morrer... Vai lá, me deixa aqui, vai!

Hugo – garota, larga de ser louca... O que você ta fazendo?

Tina- O mesmo que você.

Hugo – Mas, eu não vou mais. Por um momento...

Tina – Se lembrou de que era um viadinho...

Hugo – Não. Sei lá, me deu um medo...
Tina – Eu também...

Hugo – Desiste vai. Eu te pago um café, a gente conversa...

Tina – E depois?

Hugo – Sei lá.

Tina – Pois é...

Hugo – Pois é...

Tina – Só conversa?

Hugo – é... Se você topar, a gente pode andar no calçadão...

Tina – E depois?

Hugo – Bebida, uns beijos... Caralho, porque eu queria me matar? Sexo! Sexo! Sexo, eu e você.

Tina – Me dá a mão, então?

Hugo – Me dá você. (ri) Sem trocadilhos.

Tina – Ai, não... (ri) Segura.

Ele desequilibra e os dois caem juntos.

quinta-feira, setembro 10, 2009

Sobrados da Lapa

E você começa a gostar de sobrados e fachadas. Fachadas do centro principalmente. Porque foi esse o primeiro assunto que vocês tiveram, lembra? Você antes nem se ligava muito nisso e agora é olhar uma fachada, um sobrado charmosinho la perto da Lapa, que pronto! Pronto! Aparece a imagem de vocês dois conversando com uma latinha de cerveja na mão e ao fundo... Jorge Ben Jor? Deve ter sido... naquele dia vocês só falaram, beijaram 2 longos beijos e se lembraram disso no dia seguinte. Bateu de novo a vontade de ficarem juntos e vocês lembram que esqueceram de trocar telefone. Mas, NOME sim, cara, que bom que inventaram o Orkut. Giulia com G. Henrique. Sobrenome? Aii, merda. O que ela deve gostar? Será que ele esta na comunidade “Eu amo a Lapa”?

Se acharam, marcam um encontro. Embaixo daquela fachada. Quem começou a gostar de fachada primeiro, nem sei e to indo lá. Atrás daquela nossa fachada mais um vez.

domingo, setembro 06, 2009

Virgínia e eu

-Pra que a gente aprende isso? Não vai adiantar nada, daqui a 3 meses eu terei esquecido tudo! – eu falei, na esperança de puxar algum assunto com ela. Ela no caso, e parece que na hora eu havia apagado da memória esse fato, é a Virginia, CDF, certinha, meiga, futura amiga de Bill Gates e fodões do gênero.
-Pra você pode ser inútil, talvez para mais alguns, mas, imagina quem quer fazer biomédicas ou engenharia, é importante.
Depois dessa, eu deveria ter me mantido calada, prestando atenção nos exercícios de “Ligações iônicas”, mas insisti:
- é, eu sei... Por isso o Ensino daqui deveria ser igual lá fora, você escolhe o ramo que quer investir e aprende mais sobre aquilo.
-Eu não concordo com isso. Imagina! Os jovens de hoje em dia (me deu um medo profundo nessa hora) não sabem escolher direito o que querem, já pensou se você estuda para ser de humanas e resolve ser médico no meio do caminho, e ai? E além do mais, é bom que seja misturado para que haja uma interação entre diferentes tipos de pensamentos e destaques, assim, um pode ajudar o outro...
Achei que tivesse algum coordenador atrás de mim, para ela falar aquilo. Não tinha. Então, pra que ela fala dessa forma? Outra pessoa falaria algo como: “É! O Ensino do Brasil é todo errado, vamos nas ruas lutar pela mudança dessa bosta que nos obriga a decorar esquizofrenias químicas e vomitantes leis matemáticas! Urra!” – ta, talvez eu e mais 3 perdidos falassem isso, mas, ninguém a não ser Virginia responderia daquela forma.

Uma vez, quando a gente estava conversando sobre o-que-eu-vou-fazer-da-minha-vida, e eu falei que queria seguir na carreira ligada ao teatro, os olhos de Virginia conseguiram destruir a minha postura de ser-feliz-e-só-tudo-bem e me transformaram na maior vagaba do colégio que só pensa em maconha, suruba e um novo movimento hippie. Ela respondeu que queria ser juíza. Na tentativa de diminuir a minha culpa no céu, falei que eu tinha um plano B – “talvez história, jornalismo, quem sabe letras ou Relações Internacionais. Só tenho certeza de que nunca farei nada que acabe em hospitais ou repartições públicas, He he” e fiz uma cara irônica, tipo “funcionário público sucks”. E ela me perguntou o que eu tinha contra concursos públicos e uma garantia de um futuro bacana, seguro.

Nada contra, Vir. Nada. Só acho uma bosta esse tipo de emprego. Nunca seria feliz, suícidio antes dos 40 e teria, provavelmente, uma overdose de café. A bem-sucedida aqui é você, a minha parte é ir contra o sistema.

quarta-feira, setembro 02, 2009

E ela.

Só precisa de alguém que a olhe através de seus olhos tristes, ela que é tão forte em traços e postura e tão frágil. Uma boneca, talvez. Mesmo preferindo ser comparada a Catarina, a Megera domada. Mesmo querendo ser ao contrário do que é. E mesmo que ridicularize a frase “O amor é cego”, ama cegamente. E ama quem não a ama, sofre pelo o que não existe e ri do seu primeiro sofrimento por amor. É o universo de contradições em pessoa. Jurava ser blasé e objetiva e descobriu, de repente, uma impulsividade, vontade de apenas viver pela paixão...Entre outros desencontros dentro si. Mesmo assim, repito, ela só precisa de alguém que a enxergue atrás de toda banca.