terça-feira, dezembro 21, 2010

Só no mar.

Caiu por ter tentado desviar. “O que fazer agora?” se perguntava, a menina de signo de terra. Olhava o céu daquele começo de verão e lembrava que não era mais triste. Havia uma luz. Havia uma tristeza passada, seu atestado de vivência. Havia o desejo. Havia o tesão pelo futuro. Havia o medo, as sombras.
Havia ele agora. Assim, se sentia parte de algo. Queria ser dele e se perguntava “Mas, de quem somos, se somos tanto de nós mesmos?”

Como ela, a que mais sofrera por amor, se deixou levar de novo e cair?
Cair de cabeça.
Cair no mar, dessa vez.
Não mais botar só os pezinhos.
Banhada por incertezas. Banhada pela feminidade que se espelhava por seus gestos, toques e olhar. Banhada pela vontade crescente. Banhada pela ternura de menina crescida.

Do mar, via a lua. Imaginava a lua como feita para ela e feita para ele.
Para o olhar deles que ia além do olhar dos medíocres que passam sem perceber a grandeza dos sinais. A grandeza dos sons. A grandeza da lua. A grandeza do ser.
O verdadeiro problema do ser é que ele nunca sabe o quanto pode levitar e se atirar ou o quanto é pesado para cair.

Ela sentia o peso puxar seu corpo dentro daquele mar,
Mesmo assim, boiava. Flutuava sobre a imensidão.
A imensidão sentida. As dúvidas como ondas.
Os medos.
O calor. Calor das trocas.
A lua cheia de verão.
Deixava-se ir com o mar.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Prelúdio de começo


Olhou.
Olhou.
Olhou.
Desviou timida.
Olhou pro chão.
Olhou pro teto.
Olho no Olho.
Ai!
Sorriu como se fosse o dono do pedaço.
Sorriu sem abrir a boca.
Olhou.
Olhou pro lado sorrindo.
Olhou pro chão desconsertado.
As mãos
Os amigos
Olhou.
Olhou.
Ta na minha. Deus, é sério?
Fuck yeah!

sábado, dezembro 04, 2010

Dezembro

Desanda e
Impõe
Desbota e
Compõe
Desarma e
Propõe
Deleita e
Dispõe
do tempo que vai.
dos segundos finais
da ânsia dos mortais
e acaba, assim como maio,
uma vez mais.

terça-feira, novembro 02, 2010

Atemporal.

O tempo lá fora oscila.
São gotas de chuva, temporal, gotas de chuva,
temporal, gotas de chuva, temporal...
O tempo aqui dentro vacila
São gotas de lágrimas atemporais, gotas de lágrimas
atemporais, gotas de lágrimas atemporais...
É um frio tão grande, é toda neblina
É uma angústia que quase alucina
É uma triste sina dos meu sinais.

quarta-feira, outubro 20, 2010

Bruta flor

Querer, eu quero
E quero em quantidade.
Quero agora
Quero e quero
Sem questionar,
Quero-te
Quero-me em ti
Quero-te quase inteiro

Mas, não inteiro
Porque curto
O mistério
E o querer sempre
Mais.

Quanto quero...
Um só tipo de querer
E que querer não
Seja qualificado

Quero querer maltrado,
estrupício. Querer
de bordel e hospício
Querer como quase um
Suplicio.
Suplicar por aquilo
Que não posso mais ter.
E, assim mesmo, quero.

sábado, outubro 09, 2010

Na galeria de arte

Na galeria de arte, dois amigos. Um pintor e um amigo que quer se mostrar conhecedor das artes:


Amigo - Nossa que sujeito abatido, parece até Van Gogh prestes a cortar as orelhas...

Pintor - Meu primo.

Amigo - Ih, aquela ali parece que acabou de sair de um quadro do Botero.

Pintor - Poxa, Fred, é minha mãe.

Amigo - E aquele é tão feio que parece ser aquele cara do “o grito” do Munch.

Pintor - É meu irmão, cacete.

Amigo – Eu vou parar de comentar, mas, as pessoas aqui são tão, tão...

Pintor – Inspiradoras... Por isso que eu pinto quadro de pessoas, quando as acho fascinantemente mal feitas por Deus, eu pinto. Aposto que esses, Botero, Picasso, Munch faziam o mesmo...

Amigo – Há! Olha aquela garota, tem um pé tão grande quanto aquele de Tarsilla...

Pintor – Sim, minha mulher...

Amigo – Poxa, desculpas, desculpas mesmo... Você está ficando zangado?

Pintor – Vem cá, deixa eu te mostrar esse quadro.

Amigo – Calma, calma... Meio esquisito... Bom, bom...É seu? Engraçado, parece um pouco com Picasso... cubismo?

Pintor – Não, é a textura da pele mesmo.

Amigo – E esse nariz?

Pintor – Proposital.

Amigo – Mas, ele é meio vesgo... errou a mão?

Pintor – Nada.

Amigo – Magricelo, iguais aquelas bailarinas de Degas, meio bicha...

Pintor – é...

Amigo – Tem alguma coisa nele que me incomoda, sem dúvidas o mais feio. Tem cara de arrogante e mesquinho... Quem é esse?

Pintor – é você!

O amigo nunca mais foi numa exposição do amigo pintor, o qual um quadro chamado "a mãe de um amigo" foi o que fez mais sucesso.

sexta-feira, setembro 24, 2010

Compaixão

Nos seus pensamentos ele a traía.
A traía com tanta sinceridade
que até a própria vaidade
de tanta, começava a engordar
Que a própria vontade
não se bastava por continuar
Que a própria descrência
- eterna insatisfação-
não exitava em o pertubar
Que a existência
não sabia se queria procriar.

Por isso a amava com tanta mentira,
com tanta mesmice, com tanta rotina.

sábado, setembro 18, 2010

Subindo

Henrique, 22 anos, faculdade publica de engenharia, áries.
Rafaela, 19 anos, faculdade publica de cinema, cabelos vermelhos, touro.
Prédio: São salvador. Bairro: Flamengo. Tempo: chuvoso. Mês: setembro. Hora: 22:46

Rafaela tinha acabado de sair do curso de italiano, quando cruzou com Henrique na portaria do prédio, que voltava do estágio na Vale. Rafaela teve vontade de lembrar a ele de quando foi lhe mostrar o patinete que tinha ganhado quando eles tinham por volta dos 10 anos, mas, desde a adolescência que não se falavam. Aos 15 anos, ele deixou de ser o príncipe encantado da menina Rafaela que estava virando mulher e se apaixonando por homens com ombros mais largos que os de Henrique e que também ouviam “Nirvana” e usavam calças coloridas alternativas.
Esperavam juntos o elevador, os dois agiam engraçadamente educados, parecia que nunca haviam tomado banho de mangueira no play do prédio.
Henrique puxou o assunto, perguntou se ela estava gostando da Uff.

- É meio fora de mão, Niterói não tem nada haver com o que eu gosto de fazer... Mas, é uma ótima faculdade, sou apaixonada por essa área.
- Cinema, né?
- É. Você... Engenharia na UERJ?
- Isso.
- E o pessoal lá? É gente boa?
- Muito, muito...
- Há...

Os dois se olharam, ainda tímidos. Estava chovendo muito, 20 de setembro, à meia-noite se iniciava a primavera e parecia até uma chuva de verão, porém mais longa e menos cheirosa. Entraram, finalmente, no elevador.

- Décimo terceiro, né? – ela disse.
- Isso. 1302.
- Claro.
- O seu é o nono?
- 902.
- Claro.

As luzes do elevador começaram a piscar.

- É, parece que hoje vai ser dia de ficar no escuro.
- Tomara que a gente saia daqui antes disso.

Foi Rafaela falar, que o destino conspirou na contra-mão das palavras dela. O elevador para à meia-luz.

- Que língua hein – diz Henrique num tom de brincadeira.
- Não acredito nisso.
- Pode inspirar para você escrever algum curta ou coisa assim.
- É, mas...Elevador é uma coisa tão clichê, Hique.
- Hique?
- Desculpa, foi... ah... natural. – ela ri desajeitado
- Há muito tempo que ninguém me chama assim
- Nossa, isso foi muito solto. Lembra quando eu te chamava de Hiquepopotamo. Você era tão gordinho.
- Eu te chamava de Rafaguela, por você não calar a boca com suas histórias. Você tinha uma nova a cada dia... E nem fazia questão de dar um sentido a elas.
- Você caia direitinho em todas elas...
- Eu gostava da maneira que você contava, era tão detalhista... Só que nunca ficava quieta... Sempre alguma coisa precisava ser falada...
- Ah, haha, eu era muito fofa.
- Era sim.
(silêncio. Os dois ficam se olhando e fingindo não se olhar)
- Você me chamou de Rafabela também, uma vez.
- Num dia que você tava chorando, eu lembro disso... O que tinha acontecido naquele dia? Você chegou a me contar?
- Acho que eu tinha brigado lá em casa.
- Quando a gente parou de se falar?
- Não sei, adolescência. Por que a gente parou?
- Sei lá, eu achava que você não queria mais
- Você sempre me achou maluca, né.
- Você pintoua o cabelo de azul e começou a andar com camisões do Led Zeppelin
- Você parou de falar comigo antes disso, tenho certeza.
- Como você tem certeza?
- Eu tinha uma quedinha por você. Tinha uns 13 anos e você me ignorava, me achava tão inferior à você que ficava na minha.
- Inferior, Rafa?
- É. Você era meio meu ídolo, sabe.
- E depois você começou a gostar de Led Zeppelin e ter como ídolo o Kurt Cobain.
- É. Fazer o que...

Os dois ficam mudos, se olham e desviam o olhar algumas vezes.

- A gente não pode mais ficar sem se falar... – Diz Henrique
- Não mesmo.

Se calam de novo. Ela faz um carinho brincando no rosto dele e fala:

- Acho que a gente vai ter que interfonar por Seu Edson tentar tirar a gente daqui.
- É.
- Se quiser, um dia desses, a gente pode jogar WAR.
- Você chora quando eu ganho de você, não dá certo, Rafabela.
- Só que, você vai ver, quem vai ganhar de você agora sou eu.
- Ta desafiado, então.

As luzes começam a piscar e o elevador faz um barulho que dá indícios de que está voltando a funcionar.

- Aparece lá em casa mesmo, Rafa.
- Sim, prometo. Adoro esses momentos nostálgicos. São inspiradores...
- Não são clichês demais para uma cineasta de cabelos vermelhos?
- Nunca.

O elevador volta a funcionar. Chega o nono andar, quando Rafaela sai, os dois se abraçam forte e se mantém com as mãos dadas conforme vão ficando distante o bastante para estas se soltarem.
Ao chegar em casa os dois pensam na infância e no porquê de nunca mais terem tido uma conversa como a que haviam acabado de ter.
A luz apaga de novo. Alguns minutos depois, na porta de Rafaela tem alguém batendo. É Henrique:

- Acabou a luz aqui também?
- Hoje é dia de ficar no escuro, Hique.

domingo, setembro 12, 2010

Setembros

Era setembro, o ano não importa qual, década de 90.
Só importa mesmo que era setembro, quase primavera, e ele saiu de casa.

Saiu batendo a porta, com um xingamento preso na garganta e chorando.
Para ela, vê-lo chorando era ainda pior do que ver seu pai naquele mesmo estado. Os homens da sua vida, aqueles que a mais fizeram sofrer e que a fizeram fazer outros homens sofrerem, eram os únicos que a destruíam, a colocavam em estado desesperador, quando choravam.
Ele foi embora daquela forma.
Vieram outros meses e anos, mas setembros nunca mais foram os mesmos depois daquele. E olha, que houveram verões que a faziam jurar que a próxima primavera seria diferente. Nunca foi. Por mais que novos amores e decepções ocorressem no seu correr pela vida, o sentimento era o mesmo e a dor ainda estava lá quando setembro chegava.

Antes do fim da relação, haviam comprado um cachorro. O “filho” dos novos apaixonados do bairro do Cosme Velho. Mais um labrador chocolate para preencher as calçadas do bairro. Setembro era o nome dele, em comemoração ao setembro de dois anos passados quando se conheceram. Pensaram em colocar “Forrest” por ter sido o primeiro filme que viram juntos, a primeira vez que ela havia visto ele chorar. A segunda vez foi no enterro do avô dela, que ele gostava muito. Ela se lembra de estar tão feliz e emocionada pela emoção dele, que não ficou tão triste com a morte do avô. As outras vezes que ele chorou – e ela lembrava de todas – foram causadas por músicas deles dois, ou filmes deles dois, ou imagens deles dois.

Voltando a falar de Setembro, o cachorro, quando ele morreu, em algum ano do novo século, parecia que dentro dela duas sensações lutavam, uma era a carta de alforria daquela relação e de tudo que setembro representava, a outra um vazio que muito maior que 30 dias de cada ano da vida dela.
Foi, ironicamente, a última vez que ela chorou.
Não havia liberdade maior, não havia tristeza mais devastadora. Nem mesmo a arte, que tanto a encantava, a emocionava a ponto de chorar. Na verdade, evitava os filmes de drama e as músicas que lhe lembrassem dele ou da infância.

O presente, ela pensava, havia de ser sua motivação. Tinha um filho, peixes e uma relação ótima com o ex-marido, a angustiava muito aquele passado sem mais frutos a destruir tanto. Havia se separado do ex-marido em abril e este passava como um mês qualquer, gostava dos frutos de outono. Ela podia ser bonita em abril, já em setembro por mais que quisesse nunca se achava bonita e era inevitável ela não cismar que o iria encontrar em algum setembro ainda. Evitava sair de casa nos dias em que estava pior, não queria nem pensar se ele a visse em mau-estado.

Quando o pai morreu, em dezembro de algum ano, ela o convidou para o enterro. Ele mandou flores para sua mãe e seus sentimentos para família, mas, não foi. Ela o esperou até mesmo depois do enterro, sentia que era dele que ela precisava. Ele gostava tanto de seu pai e ela queria tanto vê-lo chorar de novo. Até hoje, ela se sente mal quando deseja que alguém mais em comum aos dois morra, mas, pensa que quem sabe assim eles se veriam de novo, fora ou em setembro, mas que ela o visse chorando.

terça-feira, setembro 07, 2010

Cândida

Cândida chegou em casa, tirou o casaco, e antes que as bochechas cessassem o corado do rosto – fruto do calor da cidade do Rio – colocou seu disco preferido para tocar.
Guy Lombardo. A música: “you’re driving me crazy”.
A vitrola parecia entender que Cândida queria música, Cândida sempre queria alguma música, e espertamente, a vitrola fiacava colocada em frente a porta principal do outro lado da sala, perto das escadas. Chegava de casa ou descia as escadas que davam pro quarto e lá estava seu objeto preferido, pronto para ser aproveitado.
Guy Lombardo era só para os dias especiais. Aquela quarta-feira era especial. As bochechas, mesmo com a água gelada e os suspiros profundos, não deixavam o tom avermelhado. Cândida abusava do estado similar ao seu nome e da combinação perfeita dos tons da bochecha com seu novo colar de pérolas, que fazia questão de usar em dias como aquela quarta-feira.

Seu pensamento era apenas um: “You’re driving me crazy” – com todo seu mau inglês. Aquela música que ela tanto ouvia sozinha e tanto queria alguém para dedicar. Havia conseguido o que tanto queria, se sentir louca – novamente – por alguém.
Cândida dançava sozinha. Sentia-se como Cid Charisse. Sentia-se Celly Campello. Sentia-se a mulher mais sortuda de todo mundo, não havia filme de Hollywood que pudesse mostrar tamanho amor, Doris Day que lhe perdoasse.
Enquanto repetia a música mais feliz e grande em si se sentia. Tudo fazia sentido. A vida era a coincidência mais linda, seu vestido era o mais leve e seu sorriso lhe transportava às lembranças boas dos primeiros amores. Todos os amores que haviam passado por ela, haviam, finalmente, sido curados. Não havia mais peso, auto-piedade ou dúvidas corriqueiras.
O mundo era simples e divido em dois: Pré e pós “You’re driving me crazy”

“Ah, cândida...” repetia para si mesmo toda vez que lembrava da cena.
Ela passava em frente à praça, seu objetivo – depois esquecido – era comprar um bolo de coco. Avistou-o na sorveteria, ele estava com os amigos, com o topete e um sorriso que a fez querer um sorvete de morango. “Duas bolas, por favor”
Ficou parada, sozinha, no balcão. Quando ele a viu, ela logo acenou. (Sua ansiedade sempre foi uma característica que a deixava louca. Era incontrolável.) Ele sorriu e, bem devagar, deu um aceno. Dalí em diante, seu rosto cadê vez mais ficava corado diante dos indícios de reciprocidade que ele lhe dava. O aceno, o chamado para ela se juntar ao grupo, a piadinha sobre seu cabelo chanel, o pé dele que durante exatos 8 minutos e 46 segundos se manteve colado ao dela, o beijo no rosto mais demorado que o de costume e a oferta de deixá-la em casa, que ela recusou, pois queria se posicionar e não dar mais bandeiras de que estava perdidamente apaixonada por ele.

Ainda tocava “you’re driving me crazy”, era a sétima ou oitava vez. Foi quando aquele sentimento todo começou a se transformar no medo. Medos apareciam involuntariamente. Quando nunca o tivera era fácil, só planejava, sonhava, brincava com suas próprias fantasias. O sonho era muito menos sofrível. Essa chance de realização, logo a deixou com medo, medo de perder o conquistado, medo dele não lembrar do que ela disse, do sorvete que ela pediu. Medo ainda mais agoniante de toda aquele momento, que ela a cada vez que passava em sua cabeça lembrava de mais um detalhe, se perdesse da mente dele. Medo de que ele não gostasse tanto de Guy Lombardo.

Abriu os botões da blusa, apertou os olhos e decidiu-se: da próxima vez, peço sorvete de nozes. O resto não havia como resolver naquele momento e a doce Cândida, mesmo que perdida em seus medos e juventude, sabia disso e dançava.

terça-feira, agosto 24, 2010

Coisa estranha

Esse lance de amor é coisa estranha.

É como quando você dança achando que a todos encanta,
E fica olhando para ver se alguém tá percebendo o quão charmoso é esse seu jeito de dançar. Daí, a dança fica estagnada naquele prototipo de beleza, e o seu olhar procura em toda pista algum olhar correspondente. Os olhos vivos se esquecem de que o amor é cego.

Num outro dia, quando sua roupa não é mais linda e seus cabelos estão desgrenhados, quando você dança sem o charme de quem sabe que encanta, quando você dança como se estivesse cantando. Quando você dança de olhos fechados.
Ai sim, o amor aparece em todo canto.
 
(constatações de sábado à noite - pt.1)

quarta-feira, agosto 18, 2010

Crise

Há gente rindo na casa do lado
Há gente se amando lá também
O tempo passando enquanto você está ai.
Rugas, testa franzida.
E finjo que não me importo, que passo despercibida
Há gente bebendo,
Também alguns brindando.
E eu.
Eu à você me prendo
Sigo cinza, cambaleando.
E enquanto escuto a orgia invejável de nossos vizinhos
Você fica ai, brincando de ser sozinho.

quinta-feira, agosto 12, 2010

para esse sentimento

Vá! Mas, volte...
De novo

Mas,
Volte...

Revolte-me,
Envoque-me
Algo novo,
Solte-me
Lá...

E Vá!

Mas, Volte
Porque
Quero
esse todo:
Apaixonar-me
De novo
Cá.

segunda-feira, agosto 02, 2010

As férias acabaram

Ah! To atrasada... Não! Não pode matar aula. Corre para pegar o ônibus. Você vai ter que escutar essa professora falando sobre os poços de petróleo às sete da manhã e não vai poder gritar, muito menos fingir que não está lá, pois realmente, você não está lá e está errado por isso de acordo com seus pais e outras figuras que você sabe que não estão certas e muito menos podem garantir algo, mas, se eles não podem que poderá. 
Daí o sino bate. Próxima aula. E você quer um carinho, um travesseiro, quem sabe até vodka, mas procura um café na coordenação. Sem ordenar nem seus pensamentos: direita-esqueda-oi-amigo-quero-ir-embora-faltam-4-tempos-ainda-bem-que-tem-recreio-ah-café! 
Números, blablablabla whiska sachê, tenta alguns risos escondidos junto com os amigos tão inadaptaveis quanto você. Sucessos e fracassos diários nas tentativas de piadas matinais, na tentativa da vida matinal, na tentativa de encarar o futuro da nação sentado ouvindo um velho falar de binomio de newton. Aonde o mundo vai parar? Aonde eu vou parar? Será que tem tempo pra parar? Aonde eu estou indo? Bate o sinal não dá para tomar um outro café, merda, quimica ou biologia?
Eba biologia. Angiospermas tentam entrar na minha cabeça, ela é meio dificil está ocupada escrevendo alguma letra de música na ultima folha do caderno - a mais divertida de todas sempre. - Oba recreio! Social nossa de cada dia, nos dai hoje. O reencontro de idéias, a falta de assuntos interessantes, falando da vida alheia, às vezes sonhamos e às vezes só existimos em inércia.. inércia é a matéria de física. 
Com o dia mais firme as piadas já ganham mais espaço e a conversa também, você pensa em fugir antes do ultimo tempo. Não pode! Não pode! O inspetor já conhece suas desculpas de dor de cabeça, de pé, de junta, de colica, de rim. Café então. 
Sinal bateu! Liberdade! Nem tanto...Vai pra casa, pensa em comer doce na padaria: não pode, engorda. Você se culpa. Come paçoca, só paçoca e se culpa de novo e almoça um sanduba - arroz engorda é carboidrato. - Tira uma soneca até pensa em aproveitar o dia mas tem curso de inglês, ah, oba! Hoje é dia de teatro, ainda tem sono em você... Humaitá, Parque Laje, Tablado! 
Você finge estar presente se auto-atua e não atura essa condição de ser semi-você não estar por inteira no único lugar que te é inteiro, isso é um escândalo, uma agonia, você vive agora. A agonia é grande quando chegamos perto do sonho, quando estamos na linha divisória entre as duas camadas de vida sonho-realidade. Ah! O teatro! Esse palco, tudo é lindo, o mundo lá fora acaba e renasce em você no seu corpo no seu gesto na sua boca.
Hora de ir pra casa antes umas risadas, um cigarro negado, a vontade danada de algo a mais, quero só isso da vida não voltarei pra casa, largo o colégio, o lençol, meus pais a vida é isso.
Não. É tarde, a Cacá te manda ir embora estudar e você obedece como um cachorro com os rabos entre as pernas.
Tchau Seu Carlos, tchau gente. Ah...
Meu reino por um palco com luz e atores!
A rua iluminada de carros da hora do rush me levam a trilha sonora seleta de meu ipod e talvez mais uma analise de vida em bancos altos do onibus 572. 
Em casa o computador o gasto das horas preciosas de sua vida, a vida escoa em brechas. 
Que desperdício de água, Gabriela! Mas, deixa...resgato minha vida no banho. Nua, molhada, cantando, feliz.
Um jogo aqui, talvez um livro ou dever de casa. A vontade de beber uma vodka, fumar um cigarro, gritar na janela, xingar a vizinha, correr com o cachorro, sair de madrugada, dançar nessa noite, beijar uma boca, pintar uma obra, voltar pro teatro. Já são meia noite, seus pais tão em casa, o alarme toca as seis e você amanhã levanta atrasada.

quinta-feira, julho 29, 2010

Humilde soneto de inverno

O inverno veio junto com a pele branca.
Tem um que de cafuné de vó e pantufa.
E junto com a sinfonia dos pingos de chuva,
traz alguma lembrança.

É um enredo de calmaria
Que só de pensar, calma, eu ria.

O inverno tem todo o jeito de lembrança
Me lembra aquele lugar que ainda vou conhecer,
Me lembra aquela música de Lou Reed
e aquela outra de nós dois.
Me lembra o livro que eu vou ler
E tudo mais que eu posso deixar pra depois.

terça-feira, julho 20, 2010

Palavreado

Eu sei que tem amigo meu que já não aguenta mais os meus lengas-lengas (adoro falar lenga-lenga) de "ah, essa palavra é linda", "Hum, odeio falar mijo", "Galhofa é uma palavra que mostra para o que veio", "Boca só poderia ser chamada de boca". Mas, cara, tem palavras que não deveiram existir, outras deveriam ser mais faladas e isso tem que ser discutido. Vamos às ruas! Ao Planalto central! Vamos gritar bem alto não falem a palavra "fronha" ou "crosta"!
O pior nessa coisa das palavras é quando elas são desnexas, por exemplo: Apaziguar. O significado é muito bonito, mas, coloca isso numa frase, tipo: "Vou apaziguar essa briga", porra, se eu não entendesse o que é apaziguar eu apostaria que é entrar dando tesouradas em todo mundo ou enfiar uma pá guela (outra palavra terrivel) abaixo...
Enfim, tá aqui uma listinha com algumas palavras que eu me peguei analizando:

*Palavras gostosas de se falar com significados tão bons quanto.

- Cuíca (é daquele tipo que mostra para o que veio)
- Jogatina
- Moreno
- Margarina (lembra logo casa de vó)
- Orgasmo (uuum)
- Delicioso (quando falado junto com o sentimento de delicia)
- Felino
- Abacaxi
- Petiscar
- Violeta
- Cochia
- Temporal
- Suspiro (serve para o doce e para o ato de suspirar e me remete a Espirro, que também é bom de se falar)
- Mar
- Castanholas

*Palavras gostosas de se falar com significados não tão gostosos

- Pum
- Besuntar
- Bigode (se for bigode de bicho é mais legal)
- Prolixo (prolixo é uma palavra que parece ser muito maior quando você fala do quando você escreve e ela te dá poder)
- Caralho (um caralho bem dito é tipo um ano de terapia - sem duplos sentidos)
- Flamingo (do bicho mesmo)
- Bosta (melhor até que merda)

* Palavras feiosas

- Fronha (essa é tradicional na categoria palavra feia)
- Pelanca (pelanca é completamente coerente com a sua aplicação, ou seja, tão decadente quanto uma bunda mole)
- Nadega (bumbum, bunda são tão melhores, mais fáceis)
- Gafanhoto
- Canhoto
- Arroto (é muito feio, mas, nenhuma outra palavra poderia ser colocada para denominar arroto)
- Flatulência (pum, né galera, pra que flatulencia?)
- Linfático
- Gargalo (que merda de palavra)

Desculpas por essa perda de tempo e a quem interessou eu aceito mais sugestões...

domingo, julho 11, 2010

An education

"I feel old but not very wise" diz Jenny, 16 anos - filme "an education"


"Me sinto velha, mas sem muita sabedoria" diz Gabi, 16 anos - na vida


Ainda bem que é temporário. Já to até ouvindo aquela música "We are young, we run green. Keep our teeth nice and clean. See out friends, see the sights...Feel alright!".

Mentira to ouvindo "It Had to be you" quase chorando com Tony Bennet...
Ó ceus!

quarta-feira, julho 07, 2010

Espelho meu, espelho teu

Ela se olha no espelho.
Seus traços, sua sobrancelha, um olhar...
Só lembram os traços e olhares daquela mulher que ela queria se transformar.

Ela se olha no espelho buscando admiração
Busca, busca, busca...
Ela só olha agora.
Olha vazio.

Olho castanho tão sincero.
Olho castanho tão cansado.

Busca agora na boca, ou melhor, no lábio superior
A verdadeira verdade.
Nos olhos a alma, e na boca?
Na boca a expressão primogênita do corpo?
Na boca só a verdade importa.
Mentiras sinceras também.

E ela ri, ri até as bochechas se formarem melhor, os olhos fecharem um pouco e o nariz ficar meio arrebitadinho.
Ri de que a vaidosa menina?
Ri sem som.
Ri sem ele.

Não.

Chega! Não quer procurar traços nela que lembrem ele!
ah não...
Ela estava fazendo isso desde o princípio.
Aliás, espelho só se tornou importante quando ele a chamou de “bonita”.

Aonde ele achou essa beleza?
Nos olhos, na boca, no queixo ou na pinta?
O olhar procura essa minúcia em todo canto do rosto da garota.
De pose em pose,

A menina à procura de um jeito dela que nele encanta,
Se torna mulher.

sábado, julho 03, 2010

Cora e Carol

Carolina colada
Ao seu livro
Lia os contos
de Cora Coralina
calada por
conta dos contos
De amor incontáveis.

Carol, corada, por querer
Decorar os poemas
com a calma de
criança que sabe
Que contos de amor
Incontáveis
são coisas de uma cara
Poeta, Cora Coralina.


Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores. - Cora Coralina

segunda-feira, junho 28, 2010

Cena Noir (1)

Entrei no Jonh’s eram umas quinze para meia noite.

Há muito tempo que não entrava sozinho num bar. Estranhei sentar na bancada.
Desde garoto só gostava de sentar à mesa, a luz era sempre mais bonita na mesa, as garçonetes eram sempre as mais bonitas que atendiam nas mesas, sempre tinha alguém me acompanhando à mesa. Naquele dia nenhuma mesa me atraiu.

O John’s continuava o mesmo. Não, o John’s estava perdendo seu charme. Não, eu estava cansado do charme de John’s. Melhor dizendo, o charme do John’s já não me dizia mais nada por eu não ser mais o mesmo.

Pedi uma dose de whisky para o garçom velho e ele não entendia o porquê do meu olhar intimo. Nunca havíamos conversado muito bem, alguns papos sobre algum esporte ou sobre a qualidade dos vinhos. Desde que pisei no Jonh’s pela primeira vez – e não foi há pouco tempo isso – o garçom velho – que já era velho naquela época – estava lá. Parece que nada mudou pro garçom, ele continua com os papos que dão certo como futebol e bebida e com alguns clientes, os mais extrovertidos, o garçom ousa falar alguma coisa sobre mulheres. Um cara esperto esse garçom.

Sentar na bancada dava o ar que eu queria para aquela noite. Ar de solidão, desolação e de melancolia. Isso tudo descrito me passa uma beleza enorme, a melancolia de um homem é uma coisa bonita. A única pena é que o homem descrito sou eu. Um homem aos seus 50 anos, aos seus cabelos ficando brancos, aos seus inúmeros paletós. Só tive consciência de que estava ficando velho quando vi a quantidade de paletós de linhas diferentes e tons iguais, de linhas iguais e tons diferentes, de formatos diferentes com cores diferentes e linhas iguais no armário. Prefiro nem citar os tipos de gravatas.

O cheiro de cigarro me incomodava, não por ser cigarro, mas, por ser cigarro barato. Olhei em volta, achei uma fumaça saindo da boca vinho de uma mulher de longos cabelos loiros cacheados. Uma mulher que se parecia com aquelas que nós víamos nos filmes, aquelas que sempre acompanhavam o gangster. Linda, mas não deixava de ser cafona. Cafona, mas não deixava de ser linda. Fitei-a tempo o bastante para minha cabeça me censurar ao me fazer pensar na figura de Tânia.

A minha peregrinação parada no John’s se alastrava noite à dentro. Pessoas entravam, saiam e alguns entravam e saiam mais que uma vez. Via que a qualquer momento teria que sair, o frio da rua só de pensar se alastrava meu corpo à dentro. Me queixei com um homem que estava no meu lado, ele fez que sim com a cabeça e disse algo como “inverno infernal” e soltou um grunido que eu interpreto como um risada.

À oitava dose de whisky, os olhos azuis de Tânia apareciam em todo lugar. A cor dos olhos dela mudavam com o passar do dia, mudavam também quando estava triste ou feliz. Mas, não importava em que ponto o dia acabava, seus olhos à noite sempre lembravam-me o mar.

Bela Tânia.

À décima quinta dose me sentia o próprio Humphrey Bogart ao lamentar seu amor por Ingrid Bergman. Cantarolava baixinho “as time goes by”. Tânia adorava a cena do “play it, Sam!”. Ria quando me via imitando o galã de Casablanca e eu falava “i’m looking at you, kid!”.

Entrou um gato preto e branco no bar que ficou me fitando, ofereci à ele um copo de whisky. Nem se mexeu, só ficava me fitando.

Vi que estava na hora de pedir as duas últimas doses e voltar para casa. “Sam, saideira dupla, meu chapa!” – Eu disse ao velho garçom.

Quando acabei as doses, o gato já tinha sumido e metade do bar estava com as luzes apagadas, mal dava para ver o caminho até a porta. Só dava para ver o neon do “OPEN”. Fui cambaleando até a porta, quando, sem ver direito, tropecei e cai nos braços de uma mulher de olhos azuis como os de Tânia.

Fechei os olhos até que pudesse me posicionar de maneira melhor para ver aquela mulher, antes que abrisse os olhos me chegou na cabeça o cheiro da mulher. Abri-os então na mesma hora que falei “Tânia, minha querida, o que você faz aqui?”. Passando a mão em meu rosto, em tom irônico, ela disse “I’m looking at you, kid.”

Fomos ao caminho de casa, eu apoiando meus braços em volta dos ombros dela e, fingindo esquecer os motivos para minha embriaguez, cantarolávamos juntos “as time goes by”

segunda-feira, junho 21, 2010

Outra concepção

Uma vez, quando era pequeno vi,
na biblioteca da casa do meu avô,
numa daquelas paredes com estantes
do chão até o teto com enciclopédias e guias,
Zuleide, a empregada, abraçando com as pernas
o mordomo gordo, Edmundo.

Aquela visão mudou minha concepção da frase
que mamãe tanto repetia:
"não tente agarrar o mundo com as pernas".

quarta-feira, junho 16, 2010

SinceroSentimentos

Sei que tudo mais pode mudar e o que vier, vou aceitar.
Você, nesse furor, vai se perder. Se perder de mim, de ti e dos poucos outros bons.

Somos insustentáveis. Somos, nós dois, embriagados de vida acumulada. Somos tão leves, mas, pesamos um ao outro.
A doçura do nosso ser está banalizada em nossas mesmices de sermos diferentes. Somos camaleões fajutos. Farsas ambulantes. Somos sãos de nossa decadência e, por mais que não permitamos, decaímos.
Decaímos e caímos nos braços um do outro. Promessas de pele, talvez as mais verdadeiras.

A alma está partida, aniquilada, mas, o corpo. Ah! O corpo dança, dança, dança a noite inteira.
Mas, em alguma noite eu sei que você vai, ou eu vou, ou os dois vão... Será que a gente consegue?
Talvez, seja no fim que a gente se encontre, sem cartola de mágico ou ofensas indiretas. Talvez, só o fim mostre a verdadeira leveza do ser. E tudo pode mudar.

(sim, to cafona, meu bem)

quinta-feira, junho 03, 2010

Velhos amigos

Quatro amigos estão conversando num restaurante. Ambos tem por volta de 60 anos e se conhecem há pelo menos 35.


1 – Ando me sentindo tão deprimido ultimamente.

2 – Deve ser por causa de algum novo remédio. Essas porcarias só substituem problemas.

1 – Deve ser, mas, estou desgostoso mesmo.

3– Impossível! Você tem uma mulher tão doce e uma amante tão simpática. O que mais você quer?

4 – Morar na Urca! (ri)

2 – Talvez se você fizesse um tempo de terapia...

1– Fui num terapeuta na terça passada, sai de lá até mais positivo, meio nostálgico. Ele pediu para que eu contasse o que eu quisesse. Falei da minha mãe. Chorei pra burro. Acho que to virando uma bicha velha.

4 – Eu sempre desconfiei! (ri)

1 – Devo voltar lá. A Suzana falou que eu fiquei com uma cara mais jovem.

3 – Se eu tivesse uma Suzaninha também ficaria... Olha, eu desisti do amor. Ou melhor, o trompete é a minha Julieta.

2 – Não existe amor eterno, o AMOR mesmo acaba nos primeiros anos de convivência. Resta daí o carinho, o costume, o amorzinho digamos.

4 – Depende, eu amo a minha mulher muito mais que qualquer taxista com slogan no carro. Admirar e se fazer ser admirado é o segredo para uma relação.

3 – Ama a mulher, mas, entre ela e a cervejinha de sexta...

4 – Cervejinha de sexta!! De quinta, sábado, domingo... (ri)

1 – Eu tava pensando hoje. (pausa) E como não quero criar um câncer, vou falar! Já dizia Nelson Rodrigues, tricolor como eu: “sem paixão não dá nem para chupar um picolé”. Tenho que me apaixonar por alguma coisa.

4 – Só não olha pra mim! (ri)

2 – Se não deu certo com as mulheres. Deu com o emprego. Você sempre foi louco por dar aula.

1 – To achando que eu preciso conhecer coisa nova, me cansei de ensinar.

3 – Um dia todos vocês iriam cansar desses trabalhos burocráticos. Orgulho-me muito de mim!

1 – Velho exibido é pior que velho em crise.

4 – Por isso que gosto de velho bêbado! (ri)

3 – É, meu amigo, está difícil...você precisa de alguma coisa nova que não seja ligada à sexo porque para isso você tem a Diana, nem à amor por que isso é pra Suzaninha, nem à profissão porque já é uma coruja velha para começar alguma coisa do zero, nem à amizade porque eu estou aqui... O que você quer, cara?

2 – Na sua idade, o maior prazer é dormir sem azia. Você deveria ser um homem muito feliz por não ter esses problemas...

4 – E outra, você pode virar cafetão! Prazer, amor, sexo, profissão e ainda ajuda os amigos. Pronto, resolvido! (ri)

2 – Ainda consegue ficar rico, coisa que dando aula você nunca conseguiu!

3 – E se quiser uma música ambiente, to aqui! Mas, tenho que ser cliente de luxo!

1- Porra, eu to falando sério!

4 – A gente também, ora! (ri)

3- Ta, falando sério agora, e se você viajasse? Mudasse os ares por umas semanas...Vamos todos pra Europa!

2- Com que dinheiro você vai, seu músico?

3- Ué, eu dei a idéia, vocês executam!

1- Músico safado! É, eu tava pensando nisso... Sou louco pra conhecer melhor a Itália, minha família vem de lá, minha mãezinha nasceu numa cidadezinha perto da Sicília...

4 – Só não começa a chorar de novo, por favor... (ri)

1 – Ta, e daí? Viajo. Ótimo, viajo! Mas, quando voltar? Ainda vai estar tudo igual...

3- É, meu amigo...

2- Tá foda pro seu lado! (pausa) Alguém trouxe sal de frutas? To com uma dor no estomago!

1, 3 e 4 – Toma aqui!

4- Puta merda, a gente ta velho mesmo! (ri)

3 – Quem ia dizer há 10 anos atrás que eu teria que andar com uns 20 tipos diferentes de remédio no bolso? É remédio pra pressão, pro coração, pro rim, dor de cabeça, labirintite, gripe então, tenho remédio para todos os tipos...

2 – Olha, meu velho amigo tristonho...

4- ou novo amigo bicha! (ri) Desculpa, desculpa, não consigo par... (ri)

2- Posso falar? Então, você ta aqui com 3 amigos que você conhece há, sei lá, pelo menos 25 anos...

1- 35

2- 35! Nossa! A gente está combinando de viajar fazer um viagem de 1 mês nós quatro por toda Itália! Olha que maravilha! O máximo que pode acontecer com você é quando voltar encontrar tudo o que você conquistou na sua vida inteira te esperando com saudade. (fica emocionado). Quer coisa melhor?

1- Nós somos duas bichas velhas, sabia?

4- Somos quatro, quatro bichas velhas...

3- Eu nunca pensei que ia chorar com frase melosa de um advogado rabugento.

1- Hoje em dia, até slide que me mandam por e-mail me deixam assim...

4 –Po, alguém traz um whisky?

(os quatro permanecem emocionados, até que algum se lembra de algum problema e começa tudo de novo. Por mais 35 anos...)

sexta-feira, maio 28, 2010

Rodrigones

Rodrigo.
Rod Rigores?
Rod
Roda Viva
     da vida
Roda-ri-goles.
             Goles de Original.
Rodrigão
     Drigão.
     Dragão.
     Dragão de São jorge.
Rodrigones.
         Gones.
         Tones.
         Tonéis de cores.
Rodrigones.
Roda de tones.
         de tons.
         de sons.
Roda de sons Original.

segunda-feira, maio 24, 2010

Bater asas.

Quero um berro bem alto.
Um berro de independência ou morte.
Grito de final de Fla-Flu
Quero um grito que venha do peito pulsante,
desses que ecoam no Universo e que
seja ouvido pelos bacanas bárbaros (únicos que entendem grito assim).

Para esse poderem me levar para bem longe.
Vamos! Desafiem minhas pernas!
Me mostrem com clareza essa tal de Li-Ber-Da-De.


Essa tal de liberdade que só se apresenta em brechas. Nunca por inteira.
A vida em brechas, pois a vida é nada menos (e nada mais) que a busca
da Deusa Libertà (ou liberdade) - tão presente na natureza.

Só desejo que essa borboleta presa no meu peito e mente
possa voar!
Voar com os hippies,
artistas,
intelectuais,
sambistas,
budistas...
Não importa onde, nem quem,
só importa o plano que ela está voando.
Que voe até a imensidão virar forma simples.
Simples como o vento.

Daí, quando ela se deparar com esse "simplório de infinitidade" .
A liberdade estará plena.
E quando estiver cheia de plenitude, ela se transforme em leão,
peixe, avestruz, urubu ou tartaruga.
Para outros planos se expandirem dentro de mim.

Darei agora o tal berro,
e espero que a borboleta se assuste com ele
e longe voe até o alcance querido.
Porque só bater asas não é voar.

Não quero mais liberdade fragmentada! AAH!

quinta-feira, maio 20, 2010

Alguma coisa de corpo e alma


“Mente sã, corpo são.” Mente sã, corpo são? A maior mentira de todos os tempos.

Corpo e mente de um lado são muito dependentes um do outro, mas, isso não tem nada haver com sanidade. Porque não há coisa mais insana do que esse conflito diário entre duas partes que são tão diferentes. (convergentes, divergentes, urgentes, de gente...) Corpo é a provocação que fazemos ao que pensamos às vezes, corpo vai contra os princípios que lutamos, o corpo não suporta hipocrisia.

O corpo é matéria bruta – por mais que alguns sejam leves-, é o concreto, é isso aqui que nasce, cresce, cria rugas, perde tesão e morre – talvez na velhice o corpo tenha a delicadeza. O corpo é sustentável. A mente não.
A mente é complexa, ás vezes profunda. A mente é também a alma. E a alma pesa, por mais leve que seja. É aquilo: “A insustentável leveza do ser”. De ser. Ser de alma sempre, é loucura, é procura constante e inquietação. A alma é o princípio (e precipício) da ambigüidade.

Corpo é dobra, fluídos e circulação. É física, química e biologia. É a oportunidade de ser e estar. Corpo é pura figuração, é teatro, é presente.
 
E diz o poeta Manuel Bandeira:

Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
[...]
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Deixa sempre o teu corpo, porque almas são como poetas. Nunca são coerentes.

terça-feira, maio 11, 2010

Especial 16 - cont (músicas)

Então, aqui estão o restante das 16 músicas que mais marcaram a autora ilustre (hahaha) desse blog de outono.

9 - Ain't no mountain high enough - Marvin Gaye



 Quando minha mãe falou para irmos ver o filme Lado a Lado só me animei por causa da Susan Sarandon que é uma atriz que eu admiro paacas, porém, quando o filme acabou me vi numa emoção tão grande quanto a da minha mãe - ambas chorando litros - e com a mesma sensação dela de que o filme e a música tema (essa) era para gente. E é só essa música tocar que parece que há uma reavitalização, um quê.

10 - Take me out - Franz Ferdinand


Puro feeling de libertação. Puro rock bom! Puta banda boa que me levou a gostar de strokes, pixies, talking heads... Essa música é tipo um desabafo contagiante. Um achado quando Franz Ferdinand nem era conhecido no Brasil...

11- Something - The Beatles


Só porque eu AMO beatles e acho essa música uma poesia, uma música de amor mais simples e sincera. Sei lá, apaixonante. E juntamente com "Twist and Shout", "I wanna hold your hand" e "Come Together" foi uma das minhas primeiras beatles songs que me fazia muito bem e querer cada vez mais conhecer a banda. Nesse ano, fui ver o filme brasileiro "As melhores coisas da vida" - o qual eu super identifiquei vários pontos relacionados a mim - e que tocava essa música e que fez com que ela voltasse a ser uma das mais tocadas do Ipod.

12 - Medo de Amar - Vinícius de Morais



Ai, ai, ai... essa música!  E chico! E uma história muito louca da minha vida... Enfim.
"Vire essa folha do livro e se esqueça de mim
Finja que o amor acabou e se esqueça de mim
Você não compreendeu que o ciúme é um mal de raiz
E que ter medo de amar não faz ninguém feliz
Agora vá sua vida como você quer..."







13 - Mardy Bum - Arctic Monkeys 




Enfim, só conheci essa música ano passado - assim como fui conhecer melhor arctic monkeys também - e ela não saiu do meu Top 20. E foi motivo de muito o que pensar em ônibus com o Ipod no ouvido. (é a imagem que tenho quando falo da música) É dedicada a um amigo, a recreios, cuddles in the kitchen e tudo mais.


14- This Love - Maroon 5



Marcante nos meus 12, 13 anos. Outra que foi tipo um vício doente de não parar de ouvir. Amava essa música e o meu "primeiro amor" também, fooofo. Sinto muitas saudades do tempo em que morava na Marquês de Olinda e de todos aqueles furores de vida realmente começando. Nossa, bateu uma nostalgia tensa agora.

15 - Put your records on - Corinne Bailey Rae




Essa música é de todo a minha cara. (pena que depois virou modinha, mas, mesmo assim adoro).
Me lembra muito 2006, brigadeiro lá em casa, Luciana, Mariana, Felipe e Thaíssa, palhaçadas, caricaturas de professores, eu ganhando no Perfil e roubando no Banco imobiliário até a Thaíssa descobrir e brigar sério comigo, Romeu e Julieta, ser expulsa de sala, promessas de amizade eterna e fome as três da manhã com direito a guerra de pipoca, os ataques de riso devido a saga do "isso é coisa de paupérrimo"  e também "a revolta dos macacos" - escrito por mim e Mariana... "you're gonna find your self somewhere, somehow..." Delicia pura.

16 - João e Maria - Chico Buarque



Meu pai cantando a música do "herói", eu indo apresentar meu primeiro monólogo (aos 10/11 anos) do "Pequeno Princípe", eu cantando boiando na cachu de Bonito (MS) e tudo que eu devo - se que eu posso me expressar assim - a Chico Buarque por ter feito milhares de músicas para milhares de momentos e fases da minha vida.

domingo, maio 09, 2010

Especial 16

Bem, foi meu aniversário ontem e finalmente completei meus 16 outonos. (ou primaveras se pensarmos que estamos em Paris). Dai eu resolvi que eu iria postar as músicas, filmes, momentos e seiláoquemedernatelha que mais me marcaram em 16 anos de vidaloucavida.

Hoje, vou começar o TOP 16 músicas mais marcantes - não preferidas, nem melhores, marcantes. (nem estão em ordem)

 1- Let's Misbehave - Cole Porter



Vamos nos descomportar! Cole Porter me avisou e estou obedencendo. Quando eu fiz 9 anos comemorei meu aniversário em Santa Tereza com minha mãe e amigos dela num bistrô charmoso e eles me deram um cartão com várias mensagens e uma delas era "Obedeça desobedecendo e desobedeça obedecendo", desde então, esse foi o último aviso obedecido com toda dedicação. Acho que Tio Cole quer dizer o mesmo.

 2- Leãozinho - Caetano Veloso



Essa música me marca muito por minha infância. Quando era um filhote de gente, meu pai cantava essa música todas as noites para mim. Muito nostalgica e saudosa. E, sobretudo, é Caetano.

3 - Mistério do Planeta - Novos Baianos



"vou mostrando como sou e vou sendo como posso", eta, musiquinha gostosa. Me vejo muito como esse malandro misterioso dos baianos. Além disso, novos baianos me lembram minhas viagens indo pro sítio de petrópolis, com direito a gosto de pão com linguiça da Casa do Alemão e do cheiro de verde. Delicinha.

4 - Love fool - The Cardigans




Só porque eu sou uma carente chata. Tá. Er... mentira! Hahahaha, antes de "pagar carencia" cantando "love me, love me", eu já curtia essa música e foi uma das primeiras daquelas que eu ouvia 197986786 vezes e não enjoava, tinha uns 12 anos. E uma das coisas que me lembro é da vez que eu e mais 2 amigas (yasmin e luciana) nos trancamos no carro do meu pai e botamos o volume no máximo cantando essa música aos berros. E ficamos conversando, rindo alto e repetindo a música.

5 - Elephant Gun - Beirut



Tive um sonho com essa música e esse sonho me trouxe sensações tão diferentes, grandiosas e boas de se sentir que a música me faz ter vontade de chorar toda vez que ouço. LET THE SEASONS BEGUN

6 - Baby - Mutantes



Rita Lee Jones me ensinou que antes de qualquer coisa eu devo ouvir aquela canção do roberto, me importar com a margarina e aprender o que eles sabem e o que eles não sabem mais. Gostosura.

7 - Amigo estou aqui - Toy Story



A música que marcou minha amizade com o Lucas e Daniela, os quais eu sinto uma falta enorme de "estar mais aqui" com eles. E marcou meu período no Colégio Santa Marcelina. E esse filme é um dos meus preferidos de desenho animado (seguido por UP - altas aventuras).

8 - Trilha Sonora do musical Chicago



Ah, meu musical preferido, quase um vício que tive e as músicas são maravilhosamente debochadas e teatrais. Sei de cor todas as músicas e tenho um carinho especial por "Cell Block Tango", "All I care About", "Nowadays" e "All That Jazz". Essa que botei é um dos números de musicais que mais me impressionam pela força e por ser tão sexy.

segunda-feira, maio 03, 2010

Etos e Ecos.

Maneco, o correto marreco,
seleto traveco
deu direto um peteleco
secreto e reto
no teto.
Oh! Eco no sinteco.
Tentou ser discreto.
Concreto?

Abstrato!

sábado, abril 17, 2010

Garoto impressionado

E tudo ao redor do garoto o lembrava seus hormônios.
Principalmente, as pernocas da menina de cabelos cacheados, uns dois anos mais nova e que ria uma riso rouco que o transformavam num quase louco quando de sem querer se pegava pensando nela. Nela e nas pernocas. Não queria pensar mais nela, só nas pernas.

Só pensava então em pernas femininas acompanhadas de modos sensualmente diferenciados. Desejava que suas viagens de ônibus no caminho para casa demorassem mais, dispensava até Ipod, só para poder livremente pensar nas pernas. Que pernas!
Virou um vício, via as pernas e para não esquecer nunca: as desenhava. Seus dias viraram colégio, pernas, pernas e desenhos de pernas. A garota dos cachos nem era mais motivos de insônia, ah, já as pernas de sônia, ou as de Maria, ou de Judite, ou as de Joana, essas sim, lhe tiravam o sossego ao mesmo tempo que o inspiravam. Se via como um artista perturbado, como estava feliz!

Ela apareceu dessa vez com os peitos maiores. Uma mulher agora. Belos peitos da menina de risada rouca.
Peitos, peitos, peitos... Agora eles estavam por todos os lados, suculentos seios de diversas meninas, mulheres, cinquentonas enxutas... Desenhava agora só isso, nem dormia direito eram peitos e pernas por todo pensamento.

Os cachos da menina apareceram com uma mão maior acariciando eles no recreio, e as pernas estavam em cima das do outro lá. E a risada vinha com toda energia da risada rouca de mulher.
Não pensou em mais nada o garoto, só na risada. E não ria, nem desenhava mais.

domingo, abril 11, 2010

Andamento

Ando ao vento
andar lento, nem tento.
vou correndo
contra tempo.
Não atento,
vou batendo
contra o vento(?)
Não!
Sempre a favor do vento.

E se me lembro
da vida breve
já não tento
e vou de leve.
pelo vento, quase voando.
vou andando.
Enquanto há tempo.

sábado, abril 03, 2010

A Urca.

Ah, a Urca....

Tão fechada em sua própria beleza assim como seus moradores.
Tão cheia de riquezas, finezas, leveza.
Tão fachada.

E ainda, bairro tão generoso, empresta sua borda pra massa que quase implora por um contato com o belo. Mesmo que sujo, mas, belo mar da Guanabara.
(Só que no miolo, só massa boa prevalece.)

Ah, a Urca...
Seu bonde, seus ventos, seu charme.

Um Grajaú da Zona Sul.
De requintada beleza cafona.
Culta, moderna, retrô.
Assim como seus moradores.

Tão distante do mundo que, mesmo sendo amavél, não consegue ser amada.
Ou melhor, é gostada por gente 'de gosto' e é paixão nos peitos brutos de Botafogo.

segunda-feira, março 29, 2010

M!

Meus modestos sonhos faziam bem nas minhas noites! Eu costumava saber o queria...

Mas, agora eu quero tanto! Quero o muito! Tanto e mais!

E mesmo que durma inquieta, nada mais muito do que sentir o tanto das estrelas  no leito...

segunda-feira, março 15, 2010

à vida!

Assim, tudo mudou de forma
como a meia noite de um ano novo
e vi que o certo virou bossal
e o incerto a mais bonita certeza
e a segurança de que tudo vai dar pé
um dia.

Agora é como se a coerência fosse
a mais chula inimiga do humano,
do ser espontâneo de luz própria
e não se esconde atrás de bigodes para falar mal de Maria
ou de Carlos ou de mim ou de se julgar
como se fosse o neo-Jesus Cristo.
É como se Narciso finalmente
se mostrasse amigo e afrodite,
linda, imperasse finalmente e cruamente
na bomba de sangue chamada coração.

E pro Diabo, aqueles que não louvam os deuses
da vaidade, da discordia, do amor, da vida, do fruto,
do mundo em qualquer dimensão…
Porque esses sim são fiés a si,
nós meros humanos
somos a mistura mais pimenta de todo reino animal,
prontos a sairmos por ai sorrindo, chorando, cantando,
sofrendo, amando, traindo e conjugando mil verbos pela vida.

Comemorando a VIDA!

De coerente só os deuses. Um brinde!

domingo, fevereiro 21, 2010

Calor

O pior do calor é quando não se pode ceder à sede e rasgar a seda. 

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

No bloco.


Tunctunctactunctuntac...Chegou de maneira que todo bem-entendido de carnaval chega: sorriso no rosto, latinha na mão.
Foi logo cantarolando aquela música de Chico ou Noel, juro que to tentando lembrar... Mas, dizia alguma coisa tipo amor nunca mais carnaval chegou...

Só sei bem que eu perto dele agia como criança, tão entendida, tão solta. Nunca tinha sido assim.
Já ouviu falar naquela cerca que os psicanalistas (de óculos e divã verde-oliva) falam que a gente deve às vezes ultrapassar para entender melhor o que tem dentro dela?
Então. Sem forçar eu já tava muito longe. E cantando, e fazendo jeitinho de samba, e aproveitando a vida comigo mesma e com esse cara. (Esse cara que é tipo do cara da música “esse cara” do Caetano).

E mesmo com o beijo quente demorado, o dia quente passou rápido. O bloco passou. E toda aquela gente passou. A bateria lá na frente já se dispersava. E o cara foi também, tunctunctactunc... assim ele ia... tunctunctactunctunctac...
E eu fiquei. Fiquei o tempo bastante para ouvir um novo tumtum da bateria do bloco da outra esquina e ir também...

terça-feira, janeiro 26, 2010

Citando chico:

TO ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR!

delíciadevida,minhagente!

domingo, janeiro 03, 2010

Nossos pais

Lucia saiu de casa indignada com seu pai.
Seu pai, Marco, era um típico homem moderno aos 40: separado, que só saia com mulheres 10 anos mais novas que ele e loiras.

Lucia, normalmente, quando fugia de casa ia para casa da mãe ou da avó. Ir para casa da mãe era o mesmo que arrumar motivos para voltar para casa do pai.
Sua mãe, Lilia, era a típica mulher moderna aos 40: separada, que só saia com homens 10 anos mais novos e morenos.

A casa de sua avó (mãe do pai e ex-sogra da mãe) era o lugar certo - e até incentivador -  para falar muito mal de seus pais.
Mas, dessa vez, Lucia não iria perder o dia lindo com os problemas feitos por seus pais. Resolveu dar uma volta na Lagoa, ler um livro e ficar o máximo de tempo possível longe daquele intragável ambiente que eram suas casas.

Sentada num píer da Lagoa, não esperava que ao seu lado estaria um pai que obrigava a filha, de uns cinco anos, a tirar 20 mil fotos, ao invés de olhar os patinhos.
Do outro lado: um casal com um casal de filhos. Em que o pai fazia todas as vontades da mimada filhinha e a mãe repetia, quase gritando, pela centésima vez que o filho tinha que ter mais cuidado com o que fazia - aquele discurso que toda mãe faz só por motivos bestas como derramar um pouco de guaravita no chão, o pior é que elas falam como se fosse realmente grande coisa, um desvio de caráter ser uma pessoa estabanada. Mães são piradas.
E ali, também, tinha a mãe loira que falava com a filha loira que ela não poderia comer algodão doce  porque senão ficaria que nem a priminha gorducha.
Tinha a mãe que implicava com o fato do filho ouvir Ipod, enquanto ela lia o seu jornal. Tinha o pai que não deixava a filha brincar porque não queria que ela sujasse a mão.

Lucia imaginava o futuro com medo pelo aumento do número de psicopatas daqui há alguns anos.
Voltou a noitinha para casa, desacreditada.
Seu pai estava se arrumando para ir na Casa da Matriz com a Luciana 26. Havia deixado o banheiro meio zoneado, com a cueca no chão, sabonete com pentelho e shampoos e cremes abertos, mas, perguntou se ela queria comer o fetuchine que ele tinha pedido, achando que ela pudesse vir pro almoço. A raiva passou.
Ela ligou depois para mãe, que estava indo pro Teatro Odisséia com as amigas - até a convidou para ir junto, mas, lógico que Lucia não quis ir - e que queria ter uma conversa séria  e comprar novas roupas para Lucia. A canseira passou.

Resolveu não sair. No MSN, uma amiga reclamava da mãe super protetora...