sexta-feira, julho 29, 2011

Rolando pedras

O mundo lá fora parece querer me agradar, a voz rouca de Armstrong – Ella com ele – junto à luz de fim de tarde que deixa Laranjeiras mais charmosa do que sempre. Mesmo com as prósperas emoções desse fim de tarde sexta que já transmite o friendly-or-sexy-or-funny-and-charming time da noite, baby i can’t get no satisfaction.

Tenho vontade dizer tudo aquilo que me fazem calar. Dispensei as poesias de Drummond ontem e hoje dispenso as heresias do rock and roll disperso pelas ruas estreitas de Botafogo. Só porque baby, I can’t get no satisfaction.

Nesse amontoado de ideais, vontades e dúvidas me deito na cama, procurando sentido e pensando que aqueles que fizeram história não seguiam um sentido, mas sim cinco ou até mesmo seis, e mesmo contente com as expeculações de minha inquietude, baby I can’t get no satifaction. Porque eu vejo que Mick Jagger, Almodovar ou até mesmo Kundera já disseram muito do que eu quero dizer, e não, baby, não, não sinto que a minha missão seja repetir frases de efeito por isso baby, I can’t get no satisfaction. But I try and I try.

domingo, julho 24, 2011

Paçoca despedaçada

Pode o amor acabar de repente
Pode o rio acabar em enchente
E eu posso até morrer sem nada
Mas o que me entristece é ver minha paçoca despedaçada.

Pode a porca torcer o rabo
Dizerem até que é coisa do diabo
E me obrigarem a sorrir forçada
Mas o maior desespero está na paçoca despedaçada.

Que o chão suba aos ares
Que sequem rios e mares
Que a bomba seja lançada
Mas o que me apavora é a minha paçoca despedaçada.

Alguns falam que eu faço drama
outros entendem que é só o que minh'alma clama
Mesmo assim, compro jujubas - desencantada-
Mas não esqueço da minha paçoca desperdiçada.

quarta-feira, julho 13, 2011

Lucky

Um homem solitário, em seu apartamento de 62 metros quadrados em NY. Está frio, e o mundo, lá fora, é agitado. Ele com seu único contato há semanas, o peixinho Lucky e escrevendo cartas para Mia. Mia, aquela vaca que havia condenado o nosso protagonista há semanas, meses, décadas a mais profunda solidão. Ponto.

Um trago. O mundo em São paulo também é agitado e um escritor preso em seus símbolos e anseios fuma o seu maço de cigarros Lucky Strike e escreve, ou tenta escrever, sua história. Dentro do apartamento tudo era triste ou arrependimento, as contas vinham caras e o dinheiro vinha pouco. Gastava muito com cigarros, jamais fumaria um Derbi.
Mais um cigarro.
O romance. Romance. Pra quê? Pra quê toda alegoria? Necessidade de ego. Queria se tornar o ídolo de uma geração, apesar de criticar todos os ídolos de qualquer geração.
"Em NY seria mais fácil fazer sucesso"
Mais um cigarro.
Tragava profundamente à procura de inspiração. Profundamente como se a profundidade de seu romance ali estivesse e ali fosse encontrar.  Inspiração. Essa maldita que só aparece depois que o desespero já fez seu trabalho.
Tudo é lugar comum. NY é movimento.

Ponto. O homem se levanta, tenta ligar pra Mia. Nada, nenhuma resposta. Ela havia se mudado do Brooklyn. Vadia. Aonde está essa vadia? O nosso protagonista já estava perdendo as esperanças...

Jogou os papéis pro alto.
"QUE TUDO VÁ PARA O CARALHO A QUATRO"
Só queria ver Mia, ter Mia. E pouco importavam os livros e as merdas das prosas.
Mais um cigarro.
A fumaça presa na garganta. Fumaça por todo o quarto.
"Bukowski, eu te decepciono a cada momento"
Mais um cigarro.
Finalizou sem piedade o maço e o conto.
Good Luck!

O protagonista morre de asfixia, porém antes escreve no vapor do espelho: "Good Luck, good Lucky."

Nota: O escritor finalizou o conto, largou o apartamento e foi ao encontro do movimento da rua, encontrar a sorte. 
Ou pelo menos, Mia.

sexta-feira, julho 08, 2011

Poema noturno

amanhece lá fora
enquanto em mim escurecem
os anseios da noite
E assim o sol aquece

Minha presença agora
sã e quente,
age mais do que sente.
Esquece daquilo que só é lembrado sob a firmeza da lua.

De dia sou minha.
De noite, sua.