sexta-feira, setembro 16, 2011

O filho

A cena se passa em um lugar incerto. Há um homem e uma mulher em cena. Eles trocam de roupa e envelhecem conforme o texto indica

Mulher -Enche logo essas bolas que o garoto vai chegar.
Homem - Antes, olha só o caminhaozinho que eu comprei pro moleque.
Mulher -Termina logo as bolas que eu preciso me vestir, vai, anda!
Homem - Mas, mulher o moleque pode enjoar disso tudo...
Mulher - Enjoa nada! Menino sempre vai adorar bola, tá no dna... Enche as bolas, vai!
Homem - Bolas? Pra que você quer que eu faça isso? A festa é paga tem tudo dentro...
Mulher - Mas e as bolas? Vão levar também? Esses buffets... Não confio.
Homem - Bolas? O menino vai comemorar o aniversário numa boate.
Mulher - Boate?
Homem - Mulher, o tempo passa!
Mulher - Mas, eu não posso ir com essa roupinha anos 90. O que cai bem em mim? Não quero parecer cafona... ai meu Deus... será que essa saia tá boa?
Homem - Não é muito curta?
Mulher - Para boate? Você acha que eu to tão velha assim?
Homem - Boate? Que boate?
Mulher - Do aniversário...
Homem - Você quis dizer o casamento?
Mulher - Como assim? Já?
Homem - Já! A gente já está trasado, vamos chegar depois dos padrinhos, se apressa!
Mulher - Ai meu Deus!
Homem - Anda mulher...
Mulher - Mas, o tempo vai passando e a gente nem compra o bastante de vestido pra isso...
Homem - Coloca qualquer roupa e não esquece o presente do garoto!
Mulher - As panelas?
Homem - Que panelas?
Mulher - Para a casa nova, oras!
Homem - Mulher, o presente do seu neto. Do Bruninho!
Mulher - Do Bruninho, claro.
Homem - O carrinho.
Mulher - To pegando. (entra o filho) Filho!
Homem - A gente já tava saindo de casa pra ir na festinha.
Filho - Mas...

Nisso um som em off de barulho de acidente de carro, depois voz de telejornal anunciando um acidente na linha amarela fatal.  A cena principal congela com o pai e a mãe olhando para o filho que está de cabeça baixa.

Mulher - Filho, o que houve? Você tá com a cara péssima. O garoto tá te dando muito trabalho?
Homem - Aposto que ele é que nem você!
Mulher - Um diabinho!
Homem - Não deve parar quieto! Deve subir em tudo...
Mulher - Mexer em tudo...
Filho - Pai, mãe!
Mulher - Fala logo, meu amorzinho! O que houve?
Filho - Vocês precisam aceitar que eu morri.
(pausa. O filho sai lentamente)
Homem - Mulher, coloca preto e vamos.

Fim

segunda-feira, setembro 05, 2011

Do lado de dentro.

Não sei o que se passava em você. Aliás, nunca soube. Os sinais eram poucos. E a paixão é cega. O amor nem sei mais se existe. Fora daquelas músicas que dediquei à você. Mas nós caminhavamos juntos tentando ignorar a presença de cada um. Você cantava uma canção do Bowie, bem aquela que eu tatuei. Você provoca, meu bem, você provoca. Putting out fire with gasoline. E nada mais. Só vontade.
Fogo.
Gasolina.
No chan-changes.
Eu dançava alguma coisa. Tentando ignorar. Eu juro que eu tentei. I tried, I tried. Nós ali fora e tanta coisa dentro. Quando o mundo dentro de nós se torna complexo nos tornamos outsiders. Engraçado. Ainda te amo. If you say run, I run with you. Mas o nosso tempo é outro. Não quero ficar do lado de fora e o medo é andar em círculos. Por sua causa. Não quero ficar do lado de fora e o medo é andar em círculos. Mas o nosso tempo é outro. If you say run, I run with you. Ainda te amo. Engraçado. Quando o mundo dentro de nós se torna complexo nos tornamos outsiders. Nós ali fora e tanta coisa dentro. I tried, I tried. Eu juro que eu tentei. Tentando ignorar. Eu dançava alguma coisa.
No chan-changes.
Gasolina.
Fogo.
Só vontade. E nada mais. Putting out fire with gasoline. Você provoca, meu bem, você provoca. Você cantava uma canção do Bowie, bem aquela que eu tatuei. Mas nós caminhavamos juntos tentando ignorar a presença de cada um. Fora daquelas músicas que dediquei à você. O amor nem sei mais se existe. E a paixão é cega. Os sinais eram poucos. Aliás, nunca soube. Não sei o que se passava em você. Do lado de dentro.