sexta-feira, janeiro 20, 2012

bem teatral.

(Abrem-se as luzes. Todas em tons quentes. Pelo chão, papéis vermelhos picotados, que, se olharmos de cima, formam um coração. Uma menina entra com seu vestido, arco, ar e sofrimento de menina. As luzes lentamente se tornam azuis. Quando o palco está naquele ponto em que sabemos que sonhos ou tristezas virão, a garota começa a correr em círculo. Ela corre ansiosamente, ou melhor, desesperadamente. A garota corre em círculos desesperadamente, falando - em diferentes tons - declarações de amor. A menina para, encaminha-se para coxia da onde trás um toca-discos, sim, é assim bem teatral. Ela coloca um disco e começa a tocar "Unforgettable" com Diana Washington. A menina começa a dançar sozinha, mas sente, sente não, mostra que sente o perfume, o hálito, as unhas dele sob seu corpo. Vozes em off entram.)

"Coitada da menina!"
"Tão pronta para dar certo na vida..."
"Um doce!"
"Endoidou..."
"A menina ficou maluca."

(O som da vozes aumenta, cada vez mais e mais vozes entram, até que a menina berra e cai sob os papéis picados vermelhos. Deita ofegante. De repente, levanta sem esboçar expressão qualquer de pena ou loucura e fala)

"Repete a música"

(Deita e levanta poucos segundos depois, com um pouco mais de expressão fala.)

"Abaixa um pouquinho só"

(O operador de som a obedece. Ela fala.)

"O que mais se pode fazer com um coração partido, senão arte? O que se pode fazer com esse inconstante e ansioso, ansioso não, desesperado gostar, que não cabe mais dentro do autor da peça além de uma cena clichê com uma atriz dramática? Não tenham pena de mim, do autor, nem da personagem. Jantem felizes, comam pizza, hoje é domingo. Brinquem com seus cachorros e vejam o finzinho do Fantástico. A dor é minha e tão somente minha que prefiro que não se envolvam. Apenas aplaudam. Por favor, aplaudam, afinal o que se pode fazer diante dos desencontros de sentimentos, senão fechar as cortinas e esperar por algo mais alegre na próxima temporada?"

(A menina dança, as luzes vão descendo lentamente enquanto as cortinas vão se fechando.)

quarta-feira, janeiro 11, 2012

paradoxo banal

Gabriela Giffoni não sabe escrever em terceira pessoa.
Vejam só.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Cheetos ou Fandangos

Dois mil e doze mal começou e o bombardeio mental de cobranças, decisões e questões - pós deslumbre pré fogos sob promessas de uma "vida melhor nesse ano" -está ai. Ou melhor, aqui.

Prometi que não vou começar o ano já reclamando. Mas, quero registrar que ao sentir o cheiro enjoativo do Cheetos de requeijão hoje não pude evitar a sensação estranha, o embrulho no estomago - que se sentia velho - ao ter um Flash Back (em que me via entre pequenas mãos que disputavam a atenção da 'tia' da cantina atrás do fedorento salgadinho laranja) e de uma saudade instaurada por cheiros e tempos que não voltam mais.

Velhos tempos, a vida era fácil e o conflito era "Cheetos ou Fandagos?". Qualquer coisa mais grave, a culpa era dois pais, havia o colo seguro da avó e fácil acesso aos mimos de 'tias' e 'tios' que já nem lembro o nome.