segunda-feira, março 30, 2015

domingo, segunda e todos esses anos ao teu lado

acontece que eu vi um cara desfilando trôpego de muito bêbado, perto do cemitério de botafogo nesse dia meio cinza que tá hoje. bem nesse dia que é a cara pálida desse começo de outono. e ele, o bêbado, vestia uma camisa vermelha e destoante - que brilha neon na memória - , combinando com a sua nobre falta de sobriedade numa segunda feira de manhã. na camisa tava escrito "keep calm e me beija na boca". eu, que ouvia uma música triste pra combinar com o mau tempo e com essa insistência de pensar demais ainda em como você deve pensar sobre mim. eu, que estava trabalhada nessa coisa meio protagonista de filme, que a sobra de certo romantismo em mim ainda tenta praticar, parei toda a sina de segunda e sorri pro bêbado que sorriu de volta separando com seus dentes marrons e frágeis todo abismo que eu estava ensaiando pelas ruas e pela vida. queria parar aquele instante e te chamar pro meu lado, pra junto dessa sua presença ali em mim e te fazer ver com seus próprios olhos o milagre de estar sendo carregado pelos meus olhos e virar lembrança mesmo estando ausente. a verdade, que não tem cura, e vem à tona sem freios quando a euforia dessa cidade se torna domingo ou segunda. a verdade, que o bêbado entendeu na hora, é que eu sou louca por você.

sexta-feira, março 13, 2015

o bisavô

e toda calma dessa velhice
à prova do que se extingue  
a coisa lúdica resiste 
na matéria única
que é feita a vida
e o meu velho
uma garoa que urge 
até que não existe
mas
baby
ó! lhe resta o lúdico
o ímpeto o rústico
essa coisa à prova 
e depois não mais.