sexta-feira, novembro 25, 2016

looping

a navegadora confessa a baleia:
- decidi que serei fado.

a baleia vira de barriga pra cima.
em seu estômago: crianças com tersóis, bichos de porte pequeno, raquetes de tênis, garrafas de helps
a navegadora olha todo horizonte e sua abundante grandeza e coça sua cabeça cansada
e estoura os lábios em brrrr

faz sol no terraço
do barco
roncos de um sonho
profundo

amor na mensagem que não veio 
amor nas lacunas 
ondas que movimentam embaralham 
nada disso é amor
é o que tira risadas e cidades e coloca um precipício no lugar

a baleia, a navegadora, memória
o sal da água
dentro do olho

já não sabe
se partiu ou se ainda não chegou
ou se restam sólidas
enormes piratas 
fadadas ao fado, às músicas tristes
a lamentar os corpos moribundos 
pela terra

baleia, navegadora
entre línguas, constelações
entre salivas, dnas
à espera
daquilo que se anuncia em molécula
cena
violão
laringe
rei
mas nunca as salvou do frio
e nem delas mesmas.

terça-feira, outubro 18, 2016

navegadora

hora de dizer adeus
às velhas terras.

quinta-feira, setembro 29, 2016

rasgada

to
cheia
de
assunto
to
cheia
de
assunto
 

to
cheia
de
assunto
 
to
cheia
de
assunto
to
cheia
de
assunto
to
cheia
de
assunto
to
cheia
de
assunto
 
quero explodir
sua cabeça.


domingo, setembro 18, 2016

para evaporar

da pra ser três bichos: mariposa, pantera negra ou baleia. só esses três e um de cada vez para atravessar a avenida, se perder no parque, beijar Miguel, lutar esgrima com o restante da cidade, ficar nas pontas dos pés enquanto espera o sinal abrir, comer frutas pequenas e notar dois surdos mudos discutindo ao sair do Bobs. tem que ser meio pedra, azulejo português e tinta neon para saltar pelos buracos do peito, respeitar a solidão num domingo, abrir a boca até engolir o sol no inverno de setembro ou bolas de gude com a iniciais de um antigo amor. tem que ser intestino, pâncreas e lábios para atravessar por botafogo as seis da manhã, evitar pensar em coisas que não são, evitar pensar demais, evitar pensar nas bombas nucleares que virão e na festa que tá sempre acontecendo, para caminhar entre bairros e virar poeira ou imagem no Google street view. tem que ser amnésia, anorexia e desassociação de imagens para terminar o dever de casa da oitava série, decorar as letras do Frusciante, nadar a esmo num bar de Recife, acariciar tubarões, não ter mais tios ou digitais e pintar a cidade inteira de uma cor só, se vestir dessa cor e ninguém notar você dançando like a Jagger ou como aquela mariposa do início dessa tentativa.

segunda-feira, setembro 12, 2016

aroma amora

triste foi ela apaixonada
por um anagramista
que só lhe respondeu:
"que pena, pequena.".
.

abismo

days of wine and roses                                                                        na mesma época que falaram
and many lists of                                                                                   o quanto éramos incríveis.
what we have to do                                                                  promessas de oceanos da América latina
heard about the whales and                                                       muitas coisas que ficaram de começar
i saw something that                                                      me faz querer implicar com sua camisa surrada
remember me of you                                                                                    e sua falta de modos,
i told you                                                                                          tenha carinho com a minha cegueira
but was another guy                                                                               que me deixou sozinha também.
without knowing who am I                                                                    na beira de um rodamoinho.
                                                                                                             

agora
sou
eu
eu
eu
eu
eu
I
I
I
.
.
.
.

terça-feira, agosto 30, 2016

referência

E até quem me vê
lendo jornal na fila
do pão
sabe
que eu ainda
não te encontrei.

quarta-feira, agosto 17, 2016

retiros espirituais

hoje
eu varri a casa
fiz e comi um purê de inhame
com gersal e um molho oriental do Britto
a cenoura não ficou boa. preciso de receitas.
então abracei deus com gil
ele que tem ficado do meu lado
nesses momentos de
bi
po
la
ri
da
de
solidão do caralho
mas ainda graça
mesmo que dispersa
e mergulho
em escuros
cambalhotas verdadeiramente enormes
fui realmente afetuosa com a minha mãe
e peguei mais de dez minutos de sol
pensei nas máquinas do futuro
e que muito fácil
as coisas me doem.
a cidade principalmente.
é agosto
é assim
descobri vendo o filme
do Antonioni
que existem pessoas que estudam
os tipos de nuvem.
entre outras cositas mais.


segunda-feira, agosto 15, 2016

jogos olímpicos

AGORA EM BOTAFOGO
 um gringo
 pergunta
 muitos eventos
 acontecendo
 nessa cidade
 vou falar em
 português mesmo
 conhecemos todo mundo
 eu você
 que gire a roleta
 quem consegue ser
 ainda
 mais feliz.

sexta-feira, agosto 12, 2016

vão

saímos eu + ele
naquela noite

e a música era essa https://www.youtube.com/watch?v=Dcefk91YhKQ

sempre tivemos muito papo tudo muito bacana
dançávamos na rua até o ranger dos joelhos e coisa e tal
(obs: flutuei até na noite anterior, haha, e foi fo-da)
mas ai ficou estranho quando
pessoas começaram a correr na nossa direção
tentei fingir não ter medo dessas coisas confusas porque ele não tinha
queria mostrar que nossa-conduta-perante-o-bizarro-da-existência era parecida. isso define bem as relações.
só q não deu para escapar, (ó pai, não deu)
porque PERCEBEMOS
o que tava rolando
e
já era tarde demais
too late
e eu apontei tal qual a primeira pessoa que viu a lua nascendo ou um balão em maio

gritei corre!
"os céus estão carregados"
ele parou para me corrigir
"só tem um céu"
"todos eles!
e vão cair sobre nós
não vai ter como escapar se a gente não fugir
mete o pé",
MEU QUERIDO
acelera porque tá caindo
mas não deu muito jeito
percorremos todos os esconderijos do mundo
embaixo da cama, dos bueiros, dos papelões dos mendigos,
da base espacial secreta, no ninho de mariposas, na casa do imperador sérvio, junto com as corujas brancas, atrás do manguezal, perto do rio de Miguel Pereira em que o tio Flávio falou há quinze anos atrás que o monstro do lago Ness vivia de verdade, debaixo da ponte nove, no deserto do Saara, submersos no verdadeiro Lago Ness, etcetera, muito lugar
sem sucesso
o amor
desabou
sobre
nossas
cabeças
nos deixou encharcados dele, entoxicados, eletrizados, e também empoeirados, enjaulados, entorpecidos, encrencados, exauridos, estirados, entrelaçados
e começou essa música:
https://www.youtube.com/watch?v=qeMFqkcPYcg
e 1 exército começou a dançar com a gente
tinha 1/2ta pra todo mundo!
até que nos perdessemos
pra sempre
.
triste e bom

quinta-feira, agosto 04, 2016

ash to ashes

me chama
de pokemon
e corre
pela cidade,
desesperado,
atrás
de mim.

segunda-feira, julho 18, 2016

gigante

disseram (gente que invadiu a festa) que o composto da combinação das nossas respirações enquanto dormíamos (apagados na grama sintética em forma de orelha com aparelho auditivo) virou uma enorme bolha e ta viajando entre jardins de bromélias e cafés orgânicos no leste. deu pouco tempo, eu to sabendo, mas sonhei contigo, baby.
.
com aquele negócio (esquisito) que você faz com a boca e as memórias (aveludadas) sobre livros de suspense que me injetaram na infância. tive o maior medo e chorei, enquanto afundava o dedo na minha barriga, ajeitando o chip, deixando a vida rolar. seu braço mecânico no meu peito de plástico. nossos aparelhos digestivos grunhindo. cheiro de manga em algum lugar. te falo o quanto falhei na minha antiga love story. deus fala com a gente umas paradas sobre as peças que fez. deus é um fofo. uma língua sua, meu frágil olho biônico cor lilás. tudo muito sensível, desmontável. adorei, inclusive, quando cogitamos conquistar a Ásia inteira e você riu de mim e me chamou de robô gigante. como é grande tudo. o morro que chupa a lua e esconde os planetas, a discordância entre os homens, sua tese de que a história do mundo é um círculo e eu esperneando: "é espiral! é espiral!". esse afeto cintilante, alterado.
.
.
nossa respiração sagitariana já manda cartões postais. vontade de se fundir e virar o maior robozao do mundo, cheinho de conhecimento, resistência, maldade, imperialismo e bomba de sentimentos artificiais. mas nenhum cinismo. agora o fato é que é. eu, sozinha, ciborgue capenga, com vontade desregulada de lamber, meio criança, 78% mulher, caída de carinho lisérgico, caída por aquele amor, amor bagarai, amor que com certeza vem do que temos de mais não humano, amor sobrenatural - tesão dispositivo - e.t. , caída de amor meio água viva (em resumo, pela estética inofensiva e os choques de arder, gritar, sair, fugir no meio do mar) por essa máquina-tu, delirante atrás de um coração externo a tudo isso. Call me Dorothy, baby. e bora descer que a festa já ta acabando, tem uma galera querendo entrar sem pagar e Rafael tá louco, brincando com o próprio desequilíbrio na beira da piscina.

domingo, julho 17, 2016

anotações sobre o fim de semana passado.

I
P. saiu de casa as 9. Passou por 4 bairros. 8 bares diferentes. 2 capirinhas. 5 catuabas. 6 mensagens. Todas não lidas. 2 ligações. Chupou sua melhor amiga. 1 vinho do porto.
II
J. escutou "O mundo é um moinho" e foi em frente, sem olhar pra trás, atrás da festa dos amigos da 9B, que ele vai todo ano e ela confirmou que ia. Mas não importa, ele pensa, se ela vai ou não. Ela é águas passadas. eles até conversam sobre as novas anunciações de amor e política numa boa. Até que J. volta pra casa e tremores no corpo e ânsia de vômito. Culpa da extrema direita, ele pensa, angustiado, com sangue saindo do nariz.
III
D. não se acha bonita só porque está acima do peso. leu no horóscopo que esse é o seu ano do amor. se afoga em MD de 15 em 15 dias. Jura que por F. é amor de verdade. Assinou Netflix. Está esperando ele para começar uma série. Engordou mais 1kg.
IV
F. não tem por D. nem pensamentos remotos.
V
M. adora samba, purpurina, gatinhos, a ex-namorada e trocar stickers no telegram com todo mundo com quem eventualmente trepa. M é feliz, uma pena que teve a língua cortada pelo irmão mais velho quando tinha oito anos.
VI
G. entrou no tinder na quinta. E no Happen ontem. Vamos ver o que acontece.
;
VII
T. fez quarenta e três em maio, adora samba, purpurina, direitos humanos, adolescentes pós-modernas e a ex-mulher. nunca foi muito feliz, gosta de roçar, mesmo sendo meio budista.
.
VIII
Tavam todos na festa de ontem. Eles, nós e o Flerte. o Flerte. Aquele Flerte que tava em todas as festa que fomos nos últimos tempos, que vai também nos mesmos bares, cinemas, manifestações, blocos de carnaval. Aquele Flerte que sorriu de longe no comício do Freixo. O Flerte que te conhece há mais tempo que uns amigos, acompanhou idas e vindas suas com outras pessoas. O Flerte que resiste, que te olha com tesão desde que você tem dezenove anos, encara mesmo, durante horas. O Flerte, que você soube que também é amigo da ​Giovana Maia. Que com certeza é ator ou professor de história. ou artista plástico. Aquele Flerte que dispensa a troca de palavras porque tá escrito, iria dar certo, é coisa garantida, estoque de alma gêmea. Flerte, comparsa intimo, cúmplice dedicado, está sempre na rota, já é piada interna, fim de festa quando ele vai embora, ponto de referência. O Flerte, prova de que você só tá terminando essa festa sozinha porque quer. O Flerte tá ali, com a mesma vida, a mesma bermuda cinza, chinelos, a mesma fantasia meio machista todo carnaval. O Flerte, meio merda, meio retrato da insatisfação que se sente pela cidade e seu meio social e os caminhos que segue e sempre seguiu na vida. O Flerte que a qualquer dia te arruma um freela e uma casa pra dormir uma noite em Recife.

quarta-feira, junho 15, 2016

alive vivo muito

Tava lá.
E de repente, se paf
E de repente, se parte.
E de repente, se derrete.
E de repente, se desvia.
E de repente, se repete.
E de repente, se resguarda.
E de repente, se repele.
E de repente, se depende.
E de repente, não é mais nada.
E de repente, transborda.
E de repente, transpira.
E de repente, se é pêndulo.
.
E de repente, arranca parte do cabelo ou pinta de azul celeste como os olhos de Denise que amou tanto no verão passado e passa a ter dois ou três nomes. aliás, por favor, me chamem também de Tomas e digam "olá" para o meu sexo de borracha. ou então, de repente, nem pensa e atira cem vezes, dispara, dissipa e, de repente, mata mesmo tudo aquilo que poderia ter sido e que aparece no outro e, de repente, em neon pisca a vida morte vida morte vida tudo tão perto aqui agora. repetindo: sim, vovó, estou viva. acabei de sentir um buraco gigante no meio do estômago e
.
E de repente, não é mais nada.
E de repente, se arrepende.
E de repente, de novo.
E de repente, um gigante no meio do estômago.
E de repente, Renata.
E de repente, Augusto.
E de repente, se foram.
E se desprende, de repente.
E de repente, não é mais nada.
E de repente, se é.
e ai


para Thiago, esse amor que doi aqui dentro e me
lembra que tudo que dói, existe, tem vida.

terça-feira, junho 07, 2016

um dia de merda em 2038

Eu vim aqui reclamar da porra do Fred que vem ganhado de mim todas as manhãs. Não aguento mais. Não quero mais ele. Perder no jogo era uma das poucas coisas que eu pedia pra ele fazer. Escovar meus dentes, coçar minhas costas, limpar a roupa quando estivesse azedando e perder no pedra, papel e tesoura. É uma mania boba, eu sei, querer jogar pedra, papel e tesoura toda manhã. Mas fica na tua, não me critica. Quanta a gente ai com mania de foder com galinhas, entortar garfinhos ou cheirar o próprio peido com orgulho? Cada um com a sua mania. O Fred quer me destruir. Isso é um aviso, um aviso para humanidade ou pra sei lá que porra. É um aviso. O Fred quer me destruir. Eu coloco pedra. Ele papel. Eu coloco tesoura. Ele pedra. Fred, seu tamanduá cibernético, não foi esse o programado! Sai de casa puto pra caralho. Perdi a merda do ônibus. Ativei o turbo, corri uns quinhentos metros e o motorista viu. Ele viu! Foi embora mesmo assim, vendo que eu tava com a bateria esgotando. Fred, seu bosta, te falta compaixão. Porque uma coisa é acordar e ganhar uma partida de pedra, papel e tesoura. A outra coisa é perder! Eu quero devolver o Fred! Foi isso que eu vim dizer. Tropecei da merda do ônibus quando sai. Ralei a merda toda. Três adolescentes olharam pra mim com cara de nojo. Xinguei eles e um deles chutou meu olho biônico para longe. Foi quando eu percebi que ele tinha caído. Minha mãe fica economizando e comprando esses olhos biônicos vagabundos, depois gasta muito dinheiro tentando consertar aquele cabelo amanteigado dela. Fui atrás dos meus olhos, o chip tava bambo e eu tomei dois choques até conseguir encaixar de novo. Minha mãe podia ter me devolvido, se é pra pegar e criar dessa forma, melhor nem ter. Enfim. Não tem como um dia ser bom depois disso. Fred, vai se foder legal. Do outro lado da calçada uma velha humana tropeça no meu olho cibértico e rola calçada abaixo, soltando seu pug, que sai correndo, enquanto ela grita “Miudin!” até encontrar a senhora morte lá embaixo. Hehueheuheuheu. Velha escrota. Fiquei sem olho. Andei até o trabalho. Na porta, o aviso de “Greve”. Chutei o portão, danificando meu dedo. Aqueles masturbadores de merda, nem pra me avisar no whatsapp. Nesse momento, eu coloco a mão no bolso e percebo que Puta que o pariu!!!111!!1! A Sara não! Roubaram a Sara! Moleques! Não vai adiantar nada, Sara só responde a minha voz. Sara, onde quer que você esteja, saiba que eu te amo e vou em breve te recuperar, bichinha. Masturbadores de merda, quem decide uma greve antes do meio-dia e não avisa? Eu poderia não ter acordado, não ter jogado pedra, papel e tesoura com aquele robô do infernos. Não ter corrido atrás de um ônibus que descoordenou meu marcapasso. Ou terá sido o roubo de Sara? Meu Deus! Que inferno! A única coisa que eu gostava na minha vida era ouvir a voz de Sara de manhã falando “Bom dia, chefe! Quem vai ganhar três partidas seguidas do Fred?”. Fred, era um pacto, você desrespeitou. Eu te programei para perder, Fred. Menu opções: perder fingindo que foi por pouco. Tentei te injetar um pouco de nobreza, seu robô miserável, não tem pena de ninguém. Acha que vai conseguir o que com isso? Dominar a humanidade? Me poupe desses seus sonhos cafonas, Fred. Me poupe. A vida é um buraco mais embaixo do que isso ai que você tá romantizando. Você devia ser mais obediente, seu latão demente. Obediente como a Sara. Mi amor, Sarita! Mi sonido de todas manañas! To puto pra caralho. Vou desligar o merda do Fred e hibernar pela próxima primavera que nem os ursos faziam. Esses sim eram inteligentes.

quinta-feira, maio 12, 2016

a gente ia passar em hollywood

a cena dos sapatos
o mural com as fotos
inserts do medo de repetir a historia dos meus pais
a cama arrumada


refazer o off

quinta-feira, maio 05, 2016

programa de rádio na madrugada

Sara começou a falar no rádio mais ou menos às duas e quinze da manhã. Logo depois de Emanuel, o locutor, contar a história do Orson Welles. 

Essa história do Orson Welles ter mentido sobre os Ets. E toda a cidade ter caído e entrado em desespero. Tiveram até uns suicídios, não tiveram? Preparei um texto, que é uma carta de amor aberta para o Armando. O título é "Carta Aberta para Armando, transmitida pelo rádio". Em minúsculas. Lá vai: "carta aberta para armando, transmitida pelo rádio. pouco importa você não ter fugido de mim num caminhão de água. pouco importa que você decida hoje que vai vender o fusca. pouco importa que você faça pirraça no shopping, tape os ouvidos e diga: 'não estou nem ai para estes Ets'. pouco importa que quando eu peça: 'fure encarecidamente a minha barriga', você diga que não. pouco importa que nós nunca tenhamos apostado corrida num canteiro de obras, quebrando três dentes e o tornozelo. pouco impota que você parta realmente para Vancoover, pois, para mim, estaremos para sempre naquele carnaval em que corríamos entre os carros, eu com 21 e você com 24. pouco importa que você passe dos 40 e passe a fazer 'hangloose' ou que você envelheça com demência ou que você seja aquele tipo de velho que faz questão de mostrar todas as línguas estrangeiras que fala. mas evite, tá? pouco importa que você queira fazer um implante nos seios ou escreva na tua cabeça raspada: 'base para as moscas rs'. pouco importa que você pare de lembrar dos seus sonhos e, quem sabe até, você passe a cada dia a babar mais dormindo e apertar a minha mão como se eu pudesse fazer algo para te ajudar, meu benzinho. pouco importa a lama na porta da sua casa, o cuspe do beijo de Cristina, a infelicidade de seu tio Alberto por te achar um comunista, você ter deixado bem o Paulo te esperando por horas no dia em que o planeta Vênus estava bem em cima de nós." Pra mim não dá, dói demais, 

Sara diz e entrega a carta ao locutor, depois sai correndo. 

"pouco importa que você não toque bandolim. pouco importa que exatamente nesse instante, ao ouvir isto, você procure no google: 'how to play a bandolim'. pouco importa a tua caminhada atrás das ossadas dos dinossauros. pouco importa que você não se chame Armando nem um pouco. pouco importa que a sua pupila dilate, que seu jabuti tenha fugido, que você esteja chorando ao som de Purple Rain só porque o Prince morreu e você adorar rituais fúnebres. Pouco importa que você chame 'amor' de 'bombinha' e sempre fume meu último camel. pouco importa que você não deu ouvidos quando eu disse: 'a manteiga está no fim e vai o supermercado vai fechar'.

o locutor larga o texto no meio, sai correndo e reclamando de dor e diz que não consegue continuar.







terça-feira, maio 03, 2016

microconto brasileiro

"quando acordou, o Cunha ainda estava lá".

sábado, abril 30, 2016

O Dia

I
O dia é O Dia. Mulher abre os olhos. Mulher não praticou a comum Ação Matinal de Acordar, pois Mulher não havia praticado a comum Ação de Dormir naquela noite, a Noite antes de O Dia. Na noite anterior a Noite antes de O Dia e na noite anterior à noite anterior, Mulher também não tinha conseguido praticar a Ação de Dormir, mesmo que possuísse o estado de Exaustão.
Mulher praticou o Ato de Gerar descendentes que geraram mais descendentes, porém, naquela manhã de o Dia, Ninguém estava lá. À companhia de ninguém, Mulher ingeriu o líquido preto. À mesa de Mulher, estavam os objetos de leituras de informações, os Jornais. Mulher executou com os olhos a ação de ver palavras e tentar tirar sentido da junção delas em Sentenças. Uma Sentença chama a atenção de Mulher: “Homem pratica o Ato de Proferir Discurso em Homenagem a Homem que Torturou Mulher.”. Mãos de Mulher praticam o Ato de Tremer. 
Quarenta anos antes de O Dia. Homens praticam o Ato de Socar o Rosto de Mulher. Homem pratica o Ato de Perguntar. Mulher pratica o Ato da Não Resposta. Homem auxiliado de A Ferramenta, o Alicate, pratica o Ato de Começar a Arrancar o Dente de Mulher. Homem pratica mais uma vez o Ato de Perguntar. Mulher pratica o Ato de Resistência. 
O Dia. Mulher sente o Sentimento a Insuficiência tomar-lhe o Corpo. Mulher sente A Dor. Mulher está Velha. Mãos de Mulher praticam o Ato de Tremer.
.
II
Homem acorda ao lado de Sua Mulher. Sua Mulher é Jovem. Sua Mulher pratica o Ato de Demorar ao Acordar. Homem liga o aparelho, a Televisão. Sua Mulher pratica a ação de ingerir o Líquido, Suco de Limão. Sua Mulher ingere a quantidade de Três copos, pois a data O Dia é o terceiro dia de A Dieta. A cada dia de A Dieta, deve se praticar o Ato de Ingerir mais um copo de Suco de Limão pela manhã. Homem pede a Sua Mulher que peça a Mulher Que Os Serve que os sirva. Sua Mulher pratica o Ato de Obedecer, pedindo também para que a Mulher Que os Serve obedeça. Homem sente o Sentimento de Nervosismo. Sua Mulher interpreta o Sentimento de Homem como Rispidez. Sua Mulher pratica o Ato de Preferir Sair um Pouco de Perto da Presença de Homem. Homem pratica o Ato, ao olhar Sua Mulher saindo de perto de sua presença, de Lembrar que o dia é O Dia e que, numa Hora do Futuro, Sua Mulher deverá estar pronta. 
Homem pratica o Ato de Receber o Seu Discurso de outro Homem Que tem a Prática de Praticar sua Assessoria. Sua Mulher está no quarto ao lado e enquanto pratica o Ato de Abrir a Porta para Mulher que Cuida do Cabelo e Mulher que Cuida das Unhas, liga o Aparelho, A Televisão, colocando-o sem som.
.
III
O Aparelho, A Televisão, exibe Imagens de Homens e Mulheres por todo país, O País, que praticam a ação de segurar papéis de diferentes cores, tamanhos e tipos com Letras que praticam o Ato de Formar Mensagens. Parte de Mensagens são para Mulher. Parte de Homens e Mulheres transparecem a Emoção, a Euforia. Parte de Homens e Mulheres transparecem a Emoção, a Indignação. Parte de Homens e Mulheres praticam o Ato de Pensar que estão lutando por A Justiça. Parte de Homens e Mulheres praticam o Ato de Pensar que estão sofrendo a Impotência. 
O Aparelho, A Televisão, pratica a ação de Trabalho de Informações para fazerem com que Homens e Mulheres sintam o Sentimento de Divisão por possuírem Os Conflitos de Ideias. 
.
IV
Mulher veste A Roupa que o Homem que Pratica sua Assessoria indicou para ser usada em O Dia. A Roupa é Vermelha e Rígida, Corpo de Mulher pratica a ação de se ajustar ao formato sério de A Roupa. Mulher pratica a ação de ir ao encontro de Homens e Mulheres que Trabalharam Ao Seu Lado nos Últimos Anos. As Poucas Palavras que são proferidas possuem a Pouca Convicção. Mulher sente o Sentimento do Pesar. Mulher pratica o Ato de Manter a Postura tal qual os caráteres de Firme e Forte. 
Mulher sai de A Casa. Em frente A Casa, Parte de Homens e Mulheres praticam o Ato de Gritar Palavras de Força a Mulher. Em frente A Casa, Parte de Homens e Mulheres praticam o Ato de Gritar Palavras Contra a Mulher. 
.
V
Importante o Ato de Ressaltar que Mulher praticou a Ação de Errar Grave em seu trabalho. A Ação de Errar Grave possui o caráter de Muito Impactante para Homens e Mulheres. (Alguns Homens e Mulheres praticam o Ato de reclamar da Crise Econômica. Alguns Homens e Mulheres praticam o Ato de Reclamar da Crise Ideológica.) Mas Mulher para praticar o Ato de Executar Seu Trabalho foi escolhida por Parte de Homens e Mulheres que é maior que a outra Parte de Homens e Mulheres. E Nesse Momento, Homens e Mulheres praticam o Ato de Obrigar Mulher a parar de praticar o Ato de Executar o Seu Trabalho por um Erro que não é comprovado como Suficiente para Mulher parar de praticar o Ato de Executar o Seu Trabalho. Parte de Homens e Mulheres praticam o Ato de Alertar que Golpe está sendo praticado em Mulher.
.
VI
Sua Mulher pratica o Ato de Vestir o Vestido Branco e Longo que pratica o Ato de se Ajustar ao Corpo de Sua Mulher que praticou o Ato de Emagrecer para O Dia. Sua Mulher foi auxiliada por Homem que Pratica a Prática da Assessoria em possuir o caráter de Bela e Recatada em O Dia. Homem e Sua Mulher praticam o Ato de Receber Fortes Apertos de Mãos ao Chegar ao O Palácio. Homens e Mulheres praticam o Ato de Serem Muitos Ali e recebem o nome de Multidão pelo Aparelho, a Televisão. 
.
VII
Mulher chega ao O Palácio em que praticava até O Dia o Ato de Executar o Seu Trabalho. Em O País a pratica de Comentários sobre O Dia na Internet é executada por Muitos Homens e Mulheres. Outros Homens e Mulheres ainda não praticam as ações de Utilização de Internet, Acomodação em Um Lar ou Comer a Comida. Mulher pratica a Ação de Ler O Discurso de O Dia. Mulher sente a Emoção e apresenta o caráter de Emotiva ao longo da prática de Leitura de O Discurso. Homem e Sua Mulher sentados, apresentam o caráter de Plácidos. Mulher recebe Aplausos e Vaias de A Multidão. Mulher entrega A Faixa para Homem. Mulher pratica a ação de Apertar a Mão de Homem. Mulher pratica a Ação de Dar Dois Beijos na Bochecha de Sua Mulher. Mulher pratica a Ação de Ir Embora e Deixar Homem Falar com Sua Mulher ao lado praticando o Ato de Sorrir, calada.

terça-feira, abril 12, 2016

domingo, abril 03, 2016

nós vamos passar por tudo isso juntos, meu bem

foi um dia enorme aquele em que todxs do grande país se deram conta. o centro da cidade lotou mais que em época de carnaval. uma missa parou. a praia era pequena para a multidão. o burburinho levou todos às ruas. foi coisa de horas para tirarem as camisas. peitos rígidos de diferentes tamanhos. foi combinado que era para se seguir em frente com aquilo. Perto da prisão onde ocorreu a chacina, Ana beijou Ronaldo. Em cima do gramado onde torturados na ditadura foram enterrados, cinco adolescentes carimbaram no peito nunca mais. e nada menos do que alguns milhões de braços construiu aquela imensidão de ferro, a grande jaula para os que não deviam ser nem mencionados, que tais como o bruxo mau da saga de livros e filmes adolescente, não tinham muitos planos, além de serem os donos de um mundo destruído. sim, tratavam-se de vilões óbvios. evitando mais cicatrizes, a galera aceitou a ideia de que as diferenças eram muitas e grandes, deveriam inclusive ser discutidas, mas não naquele dia. aquele dia era movido pelo mesmo elo que dá sentido a campanhas de adoção de Gatos, a correr com o corpo todo, a dormir para o amanhã e a Ana Paula querer ser mãe de mais uma menina. grudaram iscas em dólares falsos, levando até um deserto todos os que não devem mais ser mencionados, que se encaminharam com sede ao pote. em cima do deserto, jogaram a grande jaula feita por suas mãos. nunca houve um felizes para sempre, nem haveria, mas com certeza aquele foi um dia enorme.

sexta-feira, abril 01, 2016

cyber poema

gosto tanto de você
que ser stalker é pouco
gosto a ponto
de cogitar corromper seu arquivos
encher todos esses seus sites de vírus
gosto a ponto
de deletar esses vídeos antigos
de detonar todo seu disco D.
gosto tanto de você
que meu sonho é virar hacker.
só pra me instalar
no seu pc.

passado utópico

existe um percurso entre a praça xv e o bar alfa em que as oito e meia da noite pode-se ver monumentos iluminados, prédios históricos abandonados, ruas fechadas por obras, o fluxo para o metrô, beco do rato, putas, travestis, diversos tipos de bares, gente engravatada, muitos mendigos, seis ou sete padarias, uma rua com um gambá morto atropelado, três meninos "crackudinhos", a senhora que protege a bolsa, um carro que entra no motel da glória, a possibilidade de desviar para a São Salvador ou para Lapa, jovens descoladinhos que guardam um quartinho pra mais tarde, muitas garrafas de cerveja, a pichação de uma manifestação de 2013, igrejas universais, crianças chorando por sono, um cara entrando sozinho no cinema, duas delegacias, postes doados pela monarquia francesa, os pombos já foram embora daquela janela na voluntários. saudades de você, das andadas quilométricas e dos planos pra um filme cujo o enredo se passa num futuro distópico.

segunda-feira, março 07, 2016

um filme poesia - ou o porquê que eu deveria tentar parar de tentar fazê-los em plena madrugada

plano fechado e fixo em uma foto sua. talvez, Ester Gomes que acabou o refrigerante antes do filme começar, emitindo aqueles grunidinhos de quando o canudo chupa o resto do líquido, e está na fileira J8 perceba a sua barba por fazer. eu poderia falar de Ester Gomes, mas não vou. em off, o som da sua voz falando coisas ótimas. a imagem começa numa parede branca reflete as cores e sombras de uma festa. um letreiro uma data concreta - quem sabe é o nome desse filme. a imagem começa a revelar os atores que nos fazem e eles estão se acariciando em uma escada. parecem estar bêbados de fato. a música sobe e depois disso eu não conseguiria escutá-la sem me contorcer um pouco. os atores riem - bem diferente de nós- antes de simularem um toque da mão dele dentro da saia dela. tela preta. nada importa e nem dá em nada. mas te amava completamente.

terça-feira, fevereiro 16, 2016

carinhoso

Besame mucho. Dai peguei a carona com o Pato. Vi um grupo correndo com uma lixeira que seria o carrinho do último bloco de terça. Já chego lá. Na praça XV, vejo a Mari de maio de ursinho. Muitos peitos e muitas bundas e muito led. Eu, de nerd. MAM em algum momento. Primeira travessia no aterro, que eu voltaria muitas vezes e que eu juro que é o lugar mais mágico e que toda vez que eu penso sair do Rio, eu penso nele à noite e toda aquela luz que pisca. Pisca. Pisca. Pisca. Roubam o meu pote de tinta neon. Acho escroto, mas muito adequado pro dia. Embaixo da língua pisca, pisca, pisca. Estou apaixonada nº 1. Depois saio correndo. Encontro minha amiga ficando com um francês, ela não tá entendendo nada. Nem eu. O dançarino contemporâneo que eu conheci na Bahia. O Rafa! A Luiza sumiu. Ainda é quinta-feira. A língua pisca mais. Estou apaixonada nº 7. Passando por pescadores dormindo e depois naquela parte mais escura do aterro. Essa é a parte que eu sempre tenho medo porque eu sempre to perdida nessa parte, essa parte tinha que ser no começo, não no meio porque ela é escura e no meio eu to sempre perdida no meio. A Luiza sumiu. A lua! A lua fina e vermelha. Eu e Maíra na areia por ela. Eu trabalho ainda amanhã. Viaduto do Belmonte. Esse bloco não acaba. Estou apaixonada nº 11. Fim do aterro. Achei a Luiza! Amiga! Te amo! Um táxi bate no outro. O dia escorre. Dai eu e Ian chegamos no Embaixadores. Uma equipe de jornalistas quer filmar o Ian que tá vestido daquele peixe que brilha. Eu to de Miss Colombia. A Luiza nem chegou e já sumiu, a Miss Filipinas. Estou apaixonada nº 16. Sei lá porque tá muito bom se é só marchinha. Mas tá muito bom. O Tarcísio! Vamos tirar foto com o Tarcísio! Tarcísio, você é foda. Foda! Luiza! Amiga! Te amo! Casa Nuvem. O Rafa alucina. O Ian alucina. Beijos, muitos beijos, menino, menina. Eu perco todo mundo. É o lugar mais quente do mundo. Acho a Ananda e o Lucas, a gente liga pra Mariana Gama. A gente acha um bloco que tá sendo levado por um morador de rua. Paramos. Jogamos altinha. Roça. Roça. Rua. Elevador. Sofá. Cama. Não para. Desce, mas não sobe. Tiro uma foto com a Ana com o rosto da Bella, que tá na Itália, em uma A4. Estou apaixonada nº 24. Perdida mais uma vez. Acho o Breno, perco a Luiza, acho a Lilia, perco o Lucas. Felicidade é o sacolé de cupuaçu do Barão. Entro na nóia de ter deixado limão cair no meu rosto e ficar pra sempre marcada. Nóia nº 5. O Nicolas pega meus óculos de “queria ser uma abelha pra pousar na sua flor”, apostamos que nos encontraremos mais 60.000 vezes. Depois, sendo sensatos, apostamos que nos encontraremos pelo menos 12.000 vezes. Tá uma merda o bloco já, mas vamos ficar. Até o Ian voltou. “Parei de transar, o negócio é chupar peito, chupa peitô, o esquerdo e o direto”. Gallego. Bia. Otávio. Joana. Chica. Lilia. Camila. Rafa. Cadê o Ian? Insolação. Encontro a Canallini no meio do caminho pra Gamboa. A Chica perde o chinelo no caminho pra Gamboa. Desculpe o transtorno no caminho pra Gamboa. Pequenas surpresas que aquecem o coração. Mania de sair entrando em tudo que é obra. Dançar na construção (de que). Levantar terra. Tentar arrancar placa. Chegando na Gamboa o bloco tava acabando de sair. Dá tempo de tomar uma Catuaba. Corre. Corre. Meio do bloco. Me perco da Luiza. A Mariana Lima! Estou apaixonada nº 43. Baile de Favela. O Henrique Diaz! Estou apaixonada nº 44. Odeio você nº 1. Essa porra dessa peruca loira que fica caindo. Será que o limão queimou meu rosto. Nóia nº 9. Vou subir nessa janela pra pegar um ar. Uma senhora me entrega um copo de água. A Ju e o Gabo me resgatam. Eu juro que quase beijei o Henrique Diaz, mas a corda nos empurrou pra longe.  O bloco na praça. Eu e Ian abrimos passagem pelo meio da obra da praça do coreto, uma multidão. Juro. Uma multidão. Uma multidão segue a gente. Somos os pioneiros daquela invasão. Estranhos orgulhos. Harmonia lotada. Eu encontro o Cezar que disse na primeira vez que conversamos que não ia há muito tempo num carnaval, não via muita graça, nem sentido. Eu disse pra ele que carnaval era também manifestação política, sair da calçada e ir pro meio da rua, entender onde se vive para poder questionar onde se vive, o que se vive e porque se vive. Zombar do que se vive. Ele entendeu pois. O Nicolas me devolve os óculos. Um cachorro quente com tudo dentro. 8h da manhã já estamos atrasados. Eu e Ian de “Bowie” tolo. “Se trata de ir de Bowie, mas se fazer de burro durante o bloco”. Novo trajeto do bloco. Falo com um grupo de policiais que a fantasia em grupo deles tá o luxo, só um sorri, e outro fala pra eu ir saindo rápido. Bandeira branca, amor. Subo num banco e vejo o bloco de longe. Passam 6 amores passados, passam 5 amores futuros, passam 8 amores de agora, beijo, língua, passa parte da minha infância, passa a Aurora triste, passa a galera do colégio que não falava comigo e agora fala, passa minha adolescência underground, passam 3 antigos professores, passa a minha ex-chefe, passam carnavais antigos, passa o Henrique Diaz, ainda são 10h da manhã. Esse boi tem a minha vida inteira. Vamos ficar na corda, não posso deixar ele passar. Nóia n° 12. Aqui tem a Luiza, o Ian, o João da Bahia, o Zé da Bahia, o Renan. Estou apaixonada nº 67. Completamente perdida. Apaixonada. Triste. Desesperada. Nóia nº 17. Sou a pessoa mais feliz arrasada realizada sem perspectivas intensamente feliz do mundo. Uma garota de jardineira espirra MD. O Fred Mercury canta em cima de um prédio. Love of my life, don’t leave me. O Ilan em cima do prédio. Fabian, você me achou! O Sasha de Chita. Sachita! A Aninha. Encontrar a Aninha acalma o coração, faz bem aos músculos. Caminho pro MAM. Na passarela, o coração já precipita muita coisa. Dois sacolés de mojito por 5 reais. Estou apaixonada nº 81. Pan Pan pan pan pan pan. Reverbera em cada gota de suor que tava dentro e agora cai e brotam novas gotas de suor. Eu to muito louca. Quero beijar cada um de vocês na boca. Estou apaixonada nº 99. Odeio você nº 15. Um gelinho na nuca. Mais uma vez navego de grupos em grupos. Tem a galera da xepa. A galera do carnaval passado. A minha galera tá ai no meio. Entramos meio a floresta do aterro. Mais uma vez aqui, de novo perdida no escuro, morro de medo e encontrar alguém é como entrar durante alguns segundos no útero materno da cumplicidade e afeição que só o carnaval oferece e é também por isso que eu acredito tanto e tanto nele. Mas assim como tudo deve ser por mil motivos a gente se perde de novo e se encontra mais na frente. Abraços reservados para todos encontros e reencontros. A Laura e o Gregório tentam me segurar. Depois o Pedro, com a língua. Depois a Aninha com o Rubel. O Bruno com a Caetana. A Clarinha com a Antônia. Lembro que não comi nada o dia inteiro. Rafa! Rafa! Choramos alguma coisa juntos, damos um abraço apertado. Hugo chega e lembra da fome. Um cachorro quente com tudo dentro. Seguir ou não seguir com o bloco, eis a questão. Uma torção no pé é detectada. Voltamos mancando. A descoberta preciosa de um produto chamado Biofenac. Ainda bem que o dia seguinte começa mais tarde. Vestida de “essa barra que é gostar de você”, esqueço a barra em casa e só parece que sou esportista. Atleeeeeta de carnaval, grita alguém no ônibus. Eu ainda manco de ontem. Desisto de explicar que na verdade to “de barra que é gostar de você”, mas sem barra. Mais fácil andar correndo de costas noventa vezes o centro da cidade inteiro, pulando obras e me equilibrando nos trilhos incompletos do VLT, do que gostar de você, caralho. Caralho. Nunca foi tão difícil. Ou já, mas tá uma merda, vai se foder. Odeio você pra caralho nº 18. Essa época do ano tudo reverbera e arde e passa. Passou. Encontro a Gabi com aquele colírio que pinga na língua. Depois o Lucão, também de atleeeta do carnaval. Saímos correndo e fazendo alongamentos. Bruno e Giuseppe vestidos das gêmeas do iluminado. Tiramos uma foto pra posteridade. Eu queria ser uma abelha pra pousar na sua flor. Haja amor! Haja amor! Ian e eu começamos a rebolar e a bater nos nossos bumbuns e fazer caretas entre os carros.“Parei de transar, o negócio é chupar peito, chupa peitô, o esquerdo e o direto”. Um bloco em segredo sairá em breve. Mas dá tempo para mais um mergulho pra dentro do MAM. Dou a mão pro Fabian e saímos atravessando por baixo dessa vez. Uma menina de cabelo rosa nos dá doses de cachaça de banana. Valeu à pena ê ê. Valeu à pena ê ê. Sou pescador de ilusões. Essa era a descrição do flogão quando eu tinha 11 anos, danço do lado de um antigo crush do ensino médio que continua metido a gostosão. A vida em looping. Tudo ganha novo significado. A moita em cima de um estacionamento abandonado (?) no centro. Baile de Favela. Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Ápice de felicidade da minha vida. Disseram que eu andei pelas obras correndo. Encontro o João Vicente com a Nayana. Ruas muito parecidas no centro. Que bloco! Estou apaixonada nº 112. No meio das obras desse centro, estou completamente apaixonada. Eu encontro o Pedro e nós desabafamos dores e amores. Estou perdida mais uma vez. Beijo o primeiro desconhecido. Trocamos telefone? Uma mensagem no dia seguinte alertaria que sim, ou foi um dia antes a mensagem? Reencontro o Ian, perdido do Breno, sentado naquelas escadinhas atrás do IFCs. Me afundo no colo dele e ele no meu e entendo a profundidade assustadora de uma relação de amor em meio a tanta loucura. Entendo a vida e a morte. Toda a importância, eu entendo. Num abraço, esqueço de mim, das guerras, das contas, do fim do carnaval e de tudo. Falamos sobre o carrossel ou furacão ou montanha-russa de emoções que se vive nesses dias. Nunca fui tão feliz com tão pouco e nem tão miseravelmente triste. Só sei que acredito piamente no que estamos fazendo por essas ruas. Não quero sair daqui. Eu vou ficar! Eu vou ficar! Vejo alguém beijando alguém que eu não gostaria que alguém beijasse. Resolvo comer um cachorro quente de forno. Odeio você nº 25. Baile de favela. Não pode parar. Do nada to no meio de um bloco de fanfarra, correndo entre seres de led pelas ruas largas do centro. Muitas bundas, peitos e brilhos. A onda é correr e led e Techno. Muitos peitos e bundas, graças à Deus. Encontro o Breno que tinha sumido. Esbarro na Luiza! Amiga! Te amo! Correr. Subir em cima das coisas. Capô de caminhonete. Ferros das obras. Subir no caminhão. Se jogar lá de cima, confiando no maluco que diz que vai fazer pezinho. Cair. Cair em cima do maluco. Perder a chave. Continuar a correr. Gastar onda. Dança correndo. Rafahugosauloandrélauraianbrenobrunogiuseppe. Estou apaixonada nº 131. Dança esquisito. Baile de favela. Ficar sozinho dá caô. Beijo à três no João e no Snape. Quase morrer no fim de alguma rua com Fabian e Luiza até sermos engolidos pelos amigos da onça raw raw. Só sei que o dia amanhece em algum momento e nós estamos na escadaria. Eu durmo com a cabeça encostada num desconhecido muito simpático, que oferece seu ombro pra um fim de resistência. Na terça à tarde, sai um bloco pequeno e que se diz sem banda no meio de uma ladeira da glória. Simples e lindo como um samba de Noel. Reencontramos a menina de cabelo rosa com outra cachaça, descubro que ela é generosa sempre e se chama Hêlo. Estou apaixonada nº 146. No caminho entre esse e o bloco mais misterioso do carnaval - aquele cujo o carrinho de comissão de frente era o carrinho de lixo do começo de tudo, talvez do universo, lá na quinta - parte do meu dedo fica pro santo. O sangue marca o caminho. Bar do Peixe II. O bloco já saiu. Saímos juntando mais gente ao grupo até achar. Peregrinação próxima a cruz vermelha. Em meio ao calor do fim do centro, o bloco sem marchinha e com poucos músicos sai. Reconhecemos pelo Pikachu amarelo que saltita lá na frente. Num recorde de trinta segundos, me perco da Luiza. A frase “Pela precarização do carnaval” é segurada por uma caveira de braços abertos. É isso! O percurso é áspero e o meu dedo ainda sangra. Brinco de me equilibrar nos trilhos com uma amiga da Ana. A Maíra me puxa pra corda. Respirar é preciso. Baile de favela. A Maíra vai embora. Sozinha mais uma vez. Até que tem o Rafa e o Hugo. Depois tem o Freitas, o Arthur e o Milecco. “Parei de transar, o negócio é chupar peito, chupa peitô, o esquerdo e o direto”. Descubro a mágica de tomar uma skoll beats verde. Aproximando do Museu do Amanhã, alguém grita: vai ter que invadir! Ou fui eu quem gritei? Um maluco que começa a bambar com a primeira barra de ferro de inúmeras delas em fileiras e mais fileiras que separam o povo das portas do museu. A segunda barra de ferro sou eu quem derruba e, assim, em pouco menos de quinze minutos tamos embaixo do amanhã, que vai ser outro dia. Ou agora. Aqui. No meio do carnaval, manda quem pode, ocupa quem tem vontade. Vamos ocupar! O Matisse me joga aquela água nojenta da piscina - cheia de gente - que envolve o museu. Inesquecível. Estou apaixonada nº 169. Converso com o Felipe Ridolfi sentada numa escadinha que devo estar com febre. Estou sem chave, sem a metade do dedo, acabei de dar um beijo num menino que decorei o sobrenome como Peixe em inglês ou Vera, Fischer, meu dinheiro está chegando ao fim, assim como minha voz, meu pé tá inchado, baile de favela, meu celular descarregado, ainda to segurando aquela skoll beats verde até agora. Ou já é outra? O Freitas me resgata. Uma quarta de febre, manca e em posição fetal. Tristeza por favor vá embora, viciei em carnaval. E provavelmente em outras substâncias. Mas mais em carnaval. Suadouro. O último bloco. O fim da temporada de marchinhas. E a estrela dalva porque estás tão triste se você fosse sincera eu posso me regenerar ai meu bem não faz assim comigo não atravessando o deserto do Saara. Definitivamente cachaça não é água e pode até faltar o amor, menos cachaça. Finalmente encontro o Flores. Declaro a Luiza que a amo e que a melhor coisa é perder pra encontrar com ela no meio do bloco. Até que a polícia chega, spray de pimenta na cara, sem nem entender direito e depois de entender e começar a xingar mais spray de pimenta. O Fabian me salva. “Não acabou! Tem que acabar! Eu quero o fim da polícia militar!”. Beijo o Vitor. Subo num portão com a Luiza. Peço água numa casa e um cara me dá uma garrafa de 2 litros, que divido com Otávio, Thiago e Chica. Os mesmos de segunda-feira. Eu ainda a mesma, mas completamente outra. Me perco depois de uma ducha de mangueira. Mangueira! Subo em cima do capô do carro e canto com o peito estufado: “Meu coração não sei porque bate feliz quando de te vê.”. A banda para na Monte Alegre. As vozes em coro. Duas velhas na janela. Uma criança nos ombros do pai. A vida é enorme. O bloco é maior. Muitos dos meus velhos e novos e futuros amores passando por ali naquele instante, meus amigos, todas as substâncias que circulam no meu sangue, todos os lugares que me perdi em neon. O carnaval é essa potência do tosco, do simples, do conjunto, do afeto, da aceitação e do seguir, seguir sempre, sem pensar muito e somente deixar ir e ser. Os meus olhos ficam sorrindo e pelas ruas vão te seguindo.

quinta-feira, janeiro 07, 2016

agora vai

Duvido que depois que eu te mandar essa poesia por whatsapp, você nao se apaixone por mim.
Duvido
Duvido que agora que falei que somos só amigos, você não vai ver que me ama.
Duvido.
Duvido que depois de eu ter passado dois verões lendo todos os livros que você falou que valiam a pena, você não queira conversar o resto da vida comigo.
Duvido
Duvido que depois de eu ter ficado amiga de todos seus amigos e ir nos mesmos eventos que você vai, você não veja que fomos feitos um para o outro.
Duvido.
Duvido que você não tenha ficado nem um pouco comovido com os presentes que eu te mando por correio todo dia 8 de março, seu aniversário.
Duvido
Duvido que alguém tenha compartilhado todos os posts que você fez como eu já compartilhei, e que você já tenha notado isso e não sentido nada perto de um amor profundo.
Duvido.
Duvido que depois de eu ter mandado um sms pro seu melhor amigo dizendo que a minha vida sem você nela não faz sentido, que você continue sem entender que nós somos as pessoas mais feitas uma para outra que existem.
Duvido.
Duvido que agora que eu tatuei seu nome nas minhas duas coxas, você vai continuar não me dando bola.
Duvido.
Duvido que agora que eu batizei meu filho com teu nome, você não queira ser pai dos meus próximos filhos.
Duvido
Duvido que agora que eu declarei que te esqueci e de vez, você não esteja maluco.
Duvido.
Duvido que hoje mais cedo quando eu quase te atropelei sem querer saindo do clube que você vai toda quinta com teu beagle, você não pensou que grande coincidência é a vida e não teve vontade de vir atrás de mim.
Duvido.
Duvido que agora que fiquei amiga da tua mãe e ex-esposa no face, você não veja que sou eu a mulher mais compreensiva que você pode ter.
Duvido.
Duvido que você não seja o primeiro a me visitar no hospital depois d'eu ter tomado essa dose exagerada de rivotril e te mandar um áudio grogue.
Duvido
Duvido que depois de eu ter cantado "quizas, quizas" na porta da sua casa, você não ficou nem um pouco mexido e não resolveu finalmente se declarar.
Duvido
Duvido que depois de ter ido a falência por ter bancado o livro que eu escrevi para você e que tem sua foto jovem na capa, você não veja como a nossa historia é bonita e ainda tem muito o que dar.
Duvido.
Duvido que agora que eu criei coragem de por fim a essa historia, tomando a dose certa de rivotril, mas não sem antes declarar que quero ser enterrada usando seu sobrenome na lapide, você não seja o que mais chore por mim e jure amor eterno.
Duvido

terça-feira, janeiro 05, 2016

golpes

eu to falando do golpe que derrubou
o lutador grande que passava na televisão
que sobrevoava um dos bares da rua cheia
deles no final de botafogo e de um cachorro
manco que passava, a quem eu sem querer chamei
de Trevo e olhou à procura de uma mão
gordurosa para lamber ou macia para passar por
seus pelos cor de mel bem cucurucu da cabeça.
"uuh, trevo, quem é o Big Boy?"
estou falando dos pratos pintados pela minha tia
avó que morreu só e cega, enquanto a enfermeira
Denise dormia. Vi Denise numa quinta a noite, sorri
para Denise e ela não me reconheceu, nem sorriu de
volta.

25 de Dezembro de 2011

acho que pela primeira vez me apaixonei
a primeira vista por uma mulher. não sei o
nome. ela cuida da Tia Maria Helena toda terça,
quinta e sábado. tem seios fartos e olhos grandes.
ri de tudo. até vovô gostou dela.

ando pelos corredores estreitos até o
cachorro já se foi. minha mão molhada de suas
lambidas, fica cada vez mais fria. A Anna senta
e pede um bando de coisa e conta um bando de coisa
sofre muito a Anna. sei o número de passos que
distanciam a minha casa da sua. são novecentos e
quarenta e nove. ou, as vezes, novecentos e cinquenta e
dois. queria te enfiar para dentro
do bolso da minha saia e dizer "shhhh" toda
vez que você teimasse que a gente não tem nada
a ver e que eu mal te conheço. mal conhecia
o Trevo e ele me pediu comida e carinho sem
fazer nove horas. facilite as coisas. não seja que
nem Denise. eu desviei de três bombas de gás
lacrimogênio, de oito apostas no jogo do bicho,
desviei de eras glaciais, e da vizinha que sempre
puxa o mesmo assunto sobre eu morar numa casa
com vários jovens artistas, só pra acenar de longe
um oi para você, querendo te contar de tudo
que eu abri mão só para acenar esse oi pra você.
querendo entrar num site tipo decolar.com com você
para olhar as passagens mais baratas para Viena
ou Machu Pichu.

08 de julho de 2014

deserto do atacama. essa é a melhor
viagem da minha vida. infelizmente ando
tendo um tipo de distúrbio mitonomo consciente
e consentido. outro dia, roubei uma pedrinha e
fingi que ele tinha me dado de presente.

Ps: Denise nunca imaginaria um lugar como esse. Sua
noção de longe é o Canada e de grande as Cataratas. Não as
da minha tia, que está ficando cega, claro.

"oi" de longe e seu, já espero nosso primeiro
filho, corro duas maratonas e bebo esse gim
com pepino como se fosse gente grande. outro
dia mesmo estava olhando um queixudo vestido
com o uniforme do colégio, era um daqueles do
terceiro ano. ele olhou de volta. dezessete anos.
não sei o que é ter dezessete anos desde 2011 e logo
descarto a possibilidade de casamento entre eu e esse
garotinho que mal sabe das dores da vida. queria
chamar ele para sentar ao meu lado no banco alto
do ônibus só para contar das dores da vida.
a tempestade cai. lembramos que é verão. a rua logo
enche. 10, 25, 40 centímetros de água. você
desaparece. eu fico. por enquanto. até Denise
vir me resgatar no seu barco enorme e firme.