da pra ser três bichos:
mariposa, pantera negra ou
baleia. só esses três e um
de cada vez para atravessar
a avenida, se perder no parque,
beijar Miguel, lutar esgrima
com o restante da cidade, ficar nas pontas dos pés enquanto espera o sinal abrir,
comer frutas pequenas e
notar dois surdos mudos
discutindo ao sair do Bobs. tem
que ser meio pedra,
azulejo português e tinta neon
para saltar pelos buracos do peito,
respeitar a solidão num domingo, abrir a boca até engolir
o sol no inverno de setembro ou bolas de gude com a iniciais de um antigo amor. tem que ser intestino, pâncreas e lábios para atravessar
por botafogo as seis da manhã, evitar pensar em coisas que não são, evitar pensar demais, evitar pensar nas bombas nucleares que virão e na festa que tá sempre acontecendo, para caminhar entre bairros e virar poeira ou imagem no Google street view. tem que ser amnésia, anorexia e desassociação de imagens para terminar o dever de casa da oitava série, decorar as letras do Frusciante, nadar a esmo num bar de Recife, acariciar tubarões, não ter mais tios ou digitais e pintar a cidade inteira de uma cor só, se vestir dessa cor e ninguém notar você dançando like a Jagger ou como aquela mariposa do início dessa tentativa.