quinta-feira, janeiro 07, 2016

agora vai

Duvido que depois que eu te mandar essa poesia por whatsapp, você nao se apaixone por mim.
Duvido
Duvido que agora que falei que somos só amigos, você não vai ver que me ama.
Duvido.
Duvido que depois de eu ter passado dois verões lendo todos os livros que você falou que valiam a pena, você não queira conversar o resto da vida comigo.
Duvido
Duvido que depois de eu ter ficado amiga de todos seus amigos e ir nos mesmos eventos que você vai, você não veja que fomos feitos um para o outro.
Duvido.
Duvido que você não tenha ficado nem um pouco comovido com os presentes que eu te mando por correio todo dia 8 de março, seu aniversário.
Duvido
Duvido que alguém tenha compartilhado todos os posts que você fez como eu já compartilhei, e que você já tenha notado isso e não sentido nada perto de um amor profundo.
Duvido.
Duvido que depois de eu ter mandado um sms pro seu melhor amigo dizendo que a minha vida sem você nela não faz sentido, que você continue sem entender que nós somos as pessoas mais feitas uma para outra que existem.
Duvido.
Duvido que agora que eu tatuei seu nome nas minhas duas coxas, você vai continuar não me dando bola.
Duvido.
Duvido que agora que eu batizei meu filho com teu nome, você não queira ser pai dos meus próximos filhos.
Duvido
Duvido que agora que eu declarei que te esqueci e de vez, você não esteja maluco.
Duvido.
Duvido que hoje mais cedo quando eu quase te atropelei sem querer saindo do clube que você vai toda quinta com teu beagle, você não pensou que grande coincidência é a vida e não teve vontade de vir atrás de mim.
Duvido.
Duvido que agora que fiquei amiga da tua mãe e ex-esposa no face, você não veja que sou eu a mulher mais compreensiva que você pode ter.
Duvido.
Duvido que você não seja o primeiro a me visitar no hospital depois d'eu ter tomado essa dose exagerada de rivotril e te mandar um áudio grogue.
Duvido
Duvido que depois de eu ter cantado "quizas, quizas" na porta da sua casa, você não ficou nem um pouco mexido e não resolveu finalmente se declarar.
Duvido
Duvido que depois de ter ido a falência por ter bancado o livro que eu escrevi para você e que tem sua foto jovem na capa, você não veja como a nossa historia é bonita e ainda tem muito o que dar.
Duvido.
Duvido que agora que eu criei coragem de por fim a essa historia, tomando a dose certa de rivotril, mas não sem antes declarar que quero ser enterrada usando seu sobrenome na lapide, você não seja o que mais chore por mim e jure amor eterno.
Duvido

terça-feira, janeiro 05, 2016

golpes

eu to falando do golpe que derrubou
o lutador grande que passava na televisão
que sobrevoava um dos bares da rua cheia
deles no final de botafogo e de um cachorro
manco que passava, a quem eu sem querer chamei
de Trevo e olhou à procura de uma mão
gordurosa para lamber ou macia para passar por
seus pelos cor de mel bem cucurucu da cabeça.
"uuh, trevo, quem é o Big Boy?"
estou falando dos pratos pintados pela minha tia
avó que morreu só e cega, enquanto a enfermeira
Denise dormia. Vi Denise numa quinta a noite, sorri
para Denise e ela não me reconheceu, nem sorriu de
volta.

25 de Dezembro de 2011

acho que pela primeira vez me apaixonei
a primeira vista por uma mulher. não sei o
nome. ela cuida da Tia Maria Helena toda terça,
quinta e sábado. tem seios fartos e olhos grandes.
ri de tudo. até vovô gostou dela.

ando pelos corredores estreitos até o
cachorro já se foi. minha mão molhada de suas
lambidas, fica cada vez mais fria. A Anna senta
e pede um bando de coisa e conta um bando de coisa
sofre muito a Anna. sei o número de passos que
distanciam a minha casa da sua. são novecentos e
quarenta e nove. ou, as vezes, novecentos e cinquenta e
dois. queria te enfiar para dentro
do bolso da minha saia e dizer "shhhh" toda
vez que você teimasse que a gente não tem nada
a ver e que eu mal te conheço. mal conhecia
o Trevo e ele me pediu comida e carinho sem
fazer nove horas. facilite as coisas. não seja que
nem Denise. eu desviei de três bombas de gás
lacrimogênio, de oito apostas no jogo do bicho,
desviei de eras glaciais, e da vizinha que sempre
puxa o mesmo assunto sobre eu morar numa casa
com vários jovens artistas, só pra acenar de longe
um oi para você, querendo te contar de tudo
que eu abri mão só para acenar esse oi pra você.
querendo entrar num site tipo decolar.com com você
para olhar as passagens mais baratas para Viena
ou Machu Pichu.

08 de julho de 2014

deserto do atacama. essa é a melhor
viagem da minha vida. infelizmente ando
tendo um tipo de distúrbio mitonomo consciente
e consentido. outro dia, roubei uma pedrinha e
fingi que ele tinha me dado de presente.

Ps: Denise nunca imaginaria um lugar como esse. Sua
noção de longe é o Canada e de grande as Cataratas. Não as
da minha tia, que está ficando cega, claro.

"oi" de longe e seu, já espero nosso primeiro
filho, corro duas maratonas e bebo esse gim
com pepino como se fosse gente grande. outro
dia mesmo estava olhando um queixudo vestido
com o uniforme do colégio, era um daqueles do
terceiro ano. ele olhou de volta. dezessete anos.
não sei o que é ter dezessete anos desde 2011 e logo
descarto a possibilidade de casamento entre eu e esse
garotinho que mal sabe das dores da vida. queria
chamar ele para sentar ao meu lado no banco alto
do ônibus só para contar das dores da vida.
a tempestade cai. lembramos que é verão. a rua logo
enche. 10, 25, 40 centímetros de água. você
desaparece. eu fico. por enquanto. até Denise
vir me resgatar no seu barco enorme e firme.