quinta-feira, maio 12, 2016

a gente ia passar em hollywood

a cena dos sapatos
o mural com as fotos
inserts do medo de repetir a historia dos meus pais
a cama arrumada


refazer o off

quinta-feira, maio 05, 2016

programa de rádio na madrugada

Sara começou a falar no rádio mais ou menos às duas e quinze da manhã. Logo depois de Emanuel, o locutor, contar a história do Orson Welles. 

Essa história do Orson Welles ter mentido sobre os Ets. E toda a cidade ter caído e entrado em desespero. Tiveram até uns suicídios, não tiveram? Preparei um texto, que é uma carta de amor aberta para o Armando. O título é "Carta Aberta para Armando, transmitida pelo rádio". Em minúsculas. Lá vai: "carta aberta para armando, transmitida pelo rádio. pouco importa você não ter fugido de mim num caminhão de água. pouco importa que você decida hoje que vai vender o fusca. pouco importa que você faça pirraça no shopping, tape os ouvidos e diga: 'não estou nem ai para estes Ets'. pouco importa que quando eu peça: 'fure encarecidamente a minha barriga', você diga que não. pouco importa que nós nunca tenhamos apostado corrida num canteiro de obras, quebrando três dentes e o tornozelo. pouco impota que você parta realmente para Vancoover, pois, para mim, estaremos para sempre naquele carnaval em que corríamos entre os carros, eu com 21 e você com 24. pouco importa que você passe dos 40 e passe a fazer 'hangloose' ou que você envelheça com demência ou que você seja aquele tipo de velho que faz questão de mostrar todas as línguas estrangeiras que fala. mas evite, tá? pouco importa que você queira fazer um implante nos seios ou escreva na tua cabeça raspada: 'base para as moscas rs'. pouco importa que você pare de lembrar dos seus sonhos e, quem sabe até, você passe a cada dia a babar mais dormindo e apertar a minha mão como se eu pudesse fazer algo para te ajudar, meu benzinho. pouco importa a lama na porta da sua casa, o cuspe do beijo de Cristina, a infelicidade de seu tio Alberto por te achar um comunista, você ter deixado bem o Paulo te esperando por horas no dia em que o planeta Vênus estava bem em cima de nós." Pra mim não dá, dói demais, 

Sara diz e entrega a carta ao locutor, depois sai correndo. 

"pouco importa que você não toque bandolim. pouco importa que exatamente nesse instante, ao ouvir isto, você procure no google: 'how to play a bandolim'. pouco importa a tua caminhada atrás das ossadas dos dinossauros. pouco importa que você não se chame Armando nem um pouco. pouco importa que a sua pupila dilate, que seu jabuti tenha fugido, que você esteja chorando ao som de Purple Rain só porque o Prince morreu e você adorar rituais fúnebres. Pouco importa que você chame 'amor' de 'bombinha' e sempre fume meu último camel. pouco importa que você não deu ouvidos quando eu disse: 'a manteiga está no fim e vai o supermercado vai fechar'.

o locutor larga o texto no meio, sai correndo e reclamando de dor e diz que não consegue continuar.







terça-feira, maio 03, 2016

microconto brasileiro

"quando acordou, o Cunha ainda estava lá".